
O risco de aceitar cada pequeno avanço da criminalidade é, de repente, passar a achar normal cruzar com um ônibus em chamas nas avenidas mais movimentadas da cidade.
O que se passou na noite desta quarta-feira (26) na Grande Vitória, com dois ônibus queimados por bandidos e viaturas apedrejadas e alvejadas, foi a repetição de uma estratégia de retaliação covarde por parte de criminosos após a morte de comparsas que enfrentaram as forças policiais. Como se tivessem algum tipo de razão ao destruir o patrimônio e impor o terror aos passageiros.
Na ação desta quarta-feira, os criminosos ordenaram a saída das pessoas do ônibus enquanto jogavam a gasolina no veículo. Inevitável que os cerca de 20 passageiros tenham entrado em pânico. Por mais violentas que essas ações sempre tenham sido, os relatos anteriores eram de que os criminosos sempre esvaziavam o veículo antes de começar a jogar o combustível.
A população ainda assiste a essas cenas repetidas de terror urbano com incredulidade e indignação. Mas sobretudo com medo. O risco maior é que passem a ficar banalizadas na paisagem das cidades pela recorrência. Ataque a coletivos em qualquer lugar, em qualquer circunstância, é uma afronta à ordem pública, um sinal de descontrole que assusta o cidadão, que passa a se questionar se as forças do Estado ainda são capazes de garantir a sua segurança.
Principalmente quando não está claro o que está sendo feito para evitar esses episódios. Na quinta-feira (20), um ônibus do Transcol foi apedrejado e incendiado próximo ao Hortomercado, em Vitória, em um outro contexto: de acordo com a Polícia Militar, a ocorrência teve relação com duas mortes ocorridas no bairro Jesus de Nazareth dias antes.
Menos de uma semana depois, em outras circunstâncias, mais dois ônibus são vandalizados. Como a população deve reagir a isso? Com medo de sair na rua para cumprir seus compromissos? As autoridades de segurança pública precisam dar respostas mais concretas sobre o que está sendo feito para proteger a população, sem necessariamente ferir suas estratégias. Ações de inteligência bem coordenadas são fundamentais para evitar ações como as desta quarta-feira.
Não chegou perto do caos do dia 11 de outubro de 2022, quando seis ônibus foram atacados em diferentes pontos de Vitória em menos de sete horas, após a morte de um traficante. Mas nem por isso é menos alarmante, pois mais uma vez limites foram ultrapassados.
O Espírito Santo tem um histórico de crises de ônibus incendiados nos últimos 20 anos (foram 100 veículos desde 2004, um prejuízo de R$ 77 milhões) e precisa aprimorar as estratégias para se antecipar e impedir esses ataques com mais eficiência. Esses bandidos não podem ter o mínimo espaço de articulação para se sentirem os donos das ruas. Eles não são.
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