Ataques de Lula ao Banco Central: muito ajuda quem não atrapalha

É o Brasil que sai perdendo quando o presidente coloca em xeque as decisões e a autonomia do Banco Central

Publicado em 08/02/2023 às 00h45
Lula
Lula durante a posse de Mercadante no BNDES na segunda-feira (6). Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

É bem possível que a expressão que intitula este editorial já tenha sido usada em algum momento dos últimos quatro anos, quando Jair Bolsonaro esteve à frente do país. Nenhum presidente é eleito para manter silêncio absoluto, mas diante das circunstâncias — e dos impactos que falas mal colocadas ou inoportunas podem ter — é imprescindível medir as palavras. Há o futuro de um país em jogo.

Valeu para Bolsonaro, vale para Lula. As críticas do atual presidente ao Banco Central e à condução da política monetária têm um efeito nocivo nas expectativas de inflação e, consequentemente, impactam as próprias decisões do  Comitê de Política Monetária (Copom) de manter os juros elevados, atualmente no patamar de 13,75%. Os ruídos expõem uma falta de sintonia que, ao final, faz crescer a desconfiança. Todos saem perdendo.

Na primeira reunião do Copom no governo Lula, as incertezas fiscais e a piora nas expectativas de inflação foram colocadas como preocupação.  O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a reclamar do comunicado, mas nesta terça-feira (7) fez uma nova avaliação, diante da divulgação da ata da reunião. "Mais extensa, analítica, colocando pontos importantes sobre o trabalho do Ministério da Fazenda. É uma ata mais amigável em relação aos próximos passos que precisam ser tomados."

Por outro lado, o Copom também acenou ao governo federal ao afirmar que  o pacote fiscal anunciado em janeiro pela equipe econômica pode ajudar no combate à inflação. Não se trata de rasgação de seda, mas de trabalho conjunto, com metas e direcionamentos da política econômica alinhados. A recuperação da credibilidade fiscal é a protagonista nessa agenda.

A politização dos juros é uma barca furada. A demonização do Banco Central, sobretudo o questionamento da sua independência, além de perigosa, soa como justificativa rasa para um problema cuja solução deve partir do próprio governo. É a partir da construção da confiança, com políticas econômicas que prezem o equilíbrio das contas públicas e as reformas estruturantes, que as decisões sobre a taxa de juros são tomadas. Confiança é sempre a palavra.

Os juros estão elevados? Sim. Uma decisão de controle inflacionário, baseada nos números e expectativas para a economia. Não é uma decisão tomada ao bel-prazer.  A autonomia do Banco Central foi gestada justamente para que decisões técnicas se sobrepusessem às políticas.  Lula não pode piorar o que já está ruim, aumentando as instabilidades. É hora de se colocar como governante do país e lutar por um novo horizonte na economia.

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