No último domingo (08), um ônibus da linha 705 do Sistema Transcol, com destino a Nova Brasília, em Cariacica, foi incendiado por um grupo de mais de 10 homens em Itacibá, no mesmo município. Foi o 12º caso registrado de janeiro a novembro, o que faz de 2020 o ano com maior número desse tipo de ação criminosa contra a frota do Transcol desde 2017. Naquele ano, emblemático para a violência no Espírito Santo com a greve da PM, foram nove ônibus incendiados, sendo seis deles durante a crise de segurança pública.
A comparação com 2019 mostra um crescimento mais significativo: de janeiro a novembro do ano passado, foram três ônibus do Transcol incendiados, de acordo com dados do GVBus.
O risco de que esse tipo de terrorismo se torne sistemático não pode ser ignorado pelas autoridades de segurança pública. Na segunda quinzena de julho, foram noticiados quatro ataques a ônibus na Grande Vitória. Dois deles em menos de 24 horas. A principal suspeita, na época, era de que a ordem para os incêndios teria partido dos presídios. Uma represália ao Estado pela suspensão das visitas para conter o avanço da Covid-19 e pelas más condições das prisões.
A pergunta que fica, pouco mais de três meses depois, é se as investigações confirmaram essa suspeita. E quais as medidas tomadas para minar essa comunicação de facções criminosas intramuros com bandidos que circulam livremente nos bairros, acatando as ordens e espalhando o terror entre os profissionais do transporte público e os usuários.
Uma ação de inteligência coordenada não pode ser tratada como perfumaria quando urge descobrir e se antecipar a esse tipo de ação, que só fortalece a criminalidade. As investigações precisam estar um passo a frente de qualquer articulação, para conseguir desmobilizá-la.
No caso registrado no último domingo, o coletivo foi atacado por uma turba, em plena luz do dia. Havia dez passageiros, a maioria formada por idosos. Tudo ocorreu pouco tempo após uma tentativa de homicídio, na Rua 16 de Abril, na região da Maré, reduto do tráfico de drogas. Do interior de um carro preto, foram disparados cerca de 20 tiros que atingiram um homem, conhecido na região como Mineirinho. A possível conexão entre os episódios não pode ficar somente no campo das hipóteses, é preciso ir a fundo.
Somente uma investigação criteriosa e efetiva será capaz de determinar qual o nível de orquestração desses ataques. É preciso conhecer a estrutura criminosa por trás de cada um desses ônibus incendiados, para estabelecer possíveis elos com gangues ou organizações criminosas com tentáculos na Grande Vitória. Ou simplesmente constatar que são ações isoladas e estabelecer medidas preventivas.
A tendência estatística aponta que o ano de 2020 deve voltar a ter mais de mil homicídios registrados, e ações mais ousadas da criminalidade, como a chacina na ilha de Santo Antônio e o ataque em plena luz do dia no Centro de Vitória, já se refletem nas preocupações da população. Na Capital, pesquisa Ibope divulgada em outubro mostrou que, para 61% dos eleitores, a segurança pública é o setor que causa mais apreensão.
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Essa virada negativa de 2020 precisa ser interrompida. A audácia dos criminosas não pode ter espaço, sob o risco de ações como ataques a ônibus se tornarem tão recorrentes a ponto de serem banalizadas. Passageiros e motoristas devem ter o mínimo de segurança para circular, sem o medo constante de uma abordagem violenta. Só mesmo conhecendo a arquitetura do crime, as autoridades de segurança conseguirão conter essa piromania criminosa, que já passou dos limites.
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