Atropelamentos são uma das formas de violência mais desproporcionais no trânsito, e o vídeo que mostra o momento em que um carro atinge um grupo de fiéis que saía de uma igreja em Barramares, em Vila Velha, dá bem essa dimensão. Além do confronto desequilibrado entre uma máquina motorizada e o corpo humano, a covardia se acentua com a fuga do motorista, que deixou para trás dois homens e duas mulheres - duas das vítimas chegaram a ser arremessadas com o impacto. Uma imagem chocante.
Há os que vão dizer que eles caminhavam no canto da rua, quando deveriam estar na calçada. Sim, é verdade, mas isso não muda a condição de vítima, sobretudo quando não há infraestrutura urbana. Reportagem da TV Gazeta mostrou que as condições do espaço dedicado aos pedestres não tinha acessibilidade para uma das vítimas, que é cadeirante. Os feridos foram levados para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória.
Já um outro atropelamento, registrado em Linhares na noite do último sábado (13), mostrou que caminhar pela calçada tampouco é garantia de segurança para o pedestre. Quatro pessoas que estavam em frente a um bar ficaram feridas após um carro em alta velocidade invadir a calçada. O veículo ainda atingiu outros cinco veículos que estavam estacionados. O motorista? Fugiu sem prestar socorro. A Polícia Civil informou posteriormente que conseguiu identificá-lo, sem divulgar o nome.
Por imprudência ou consumo de álcool, motoristas que provocam esse tipo de estrago no trânsito, ferindo e matando pedestres, não podem passar impunes. Um caso de atropelamento em fevereiro em São Mateus causou comoção pela brutalidade com que duas trabalhadoras rurais foram mortas às margens da BR 381. As cenas foram registradas por câmeras, e é impossível não se consternar com a alta velocidade do veículo e com a imprudência do motorista, trafegando fora da via.
Demorou, mas o suspeito do atropelamento, que também não socorreu as vítimas, acabou preso no início deste mês. A impunidade não pode ser a marca nesses casos, ou os veículos continuarão sendo máquinas de matar gente nas mãos de quem não deveria estar ao volante.
Em 2022, as mortes por atropelamento no Estado tiveram um crescimento de 21,4%. Passaram de 56 registros, de 1º de janeiro a 30 de junho de 2021, para 68 no mesmo período deste ano. Serra é a cidade com mais vítimas (9). Em seguida, aparecem Vitória (8), Vila Velha (6), Cariacica (4) e São Mateus (4).
O Código de Trânsito Brasileiro diz que "os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres". Não quer dizer que pedestres não sejam também imprudentes, como quando atravessam foram da faixa, mas eles não deixam nunca de ser os usuários mais frágeis dessa cadeia. O trânsito carece de mais civilidade de todos.
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