Aumento dos assassinatos acende alerta no Espírito Santo

A mudança na dinâmica da criminalidade exige novas abordagens de enfrentamento e a participação mais efetiva de atores institucionais e sociais

Publicado em 18/02/2021 às 02h01
Balas
O Espírito Santo precisa de todos os seus atores da segurança pública . Crédito: Pixabay/ Pexels

Há nitidamente uma guerra deflagrada no Estado quando se testemunha um aumento tão substancial nos números de homicídios neste início de ano. Em 45 dias, 155 vidas foram ceifadas no Espírito Santo, um aumento de 13,1% em relação a 2020. O calor da violência não dá sinais de arrefecimento desde o ano passado, quando  voltou-se a registrar mais de mil assassinatos no período de 12 meses. A cada mês, a mudança da trajetória das estatísticas assusta, o que exige novas abordagens de mobilização institucional para a retomada do controle.

No ano passado, o crescimento dos assassinatos no primeiro trimestre provocou a mudança da cúpula da Segurança Pública estadual, o que mostra que o crescimento de 2021 se dá em cima de um parâmetro já considerado elevado. É a hora do freio.

A segurança pública nunca deixou de ser prioridade, mas o curso decrescente da violência na última década, resultado de políticas públicas importantes e contínuas que atravessaram diferentes governos, pode ter se chocado com uma transformação da criminalidade. Talvez não seja mais cabível o uso das mesmas armas de antes, diante de uma nova dinâmica da violência urbana.

Diante dessa nova realidade, o trabalho da inteligência permanece fundamental, para compreender a nova face do crime e atacá-la de formas mais eficientes. Sabe-se do controle de facções em bairros estratégicos da Grande Vitória e do domínio que esses grupos exercem sobre gangues menores de outras comunidades. É um jogo de influência, uma guerra por território. O tráfico se espalha como uma franquia, beneficia-se da lucratividade. Como desmobilizar essa rede criminosa? Só há resposta quando se conhece o inimigo a ser combatido. 

 O interior tampouco pode escapar de uma radiografia. A Região Norte, que ocupa o segundo maior número de homicídios em território capixaba, registrou um aumento de quase 50% em relação ao mesmo período de 2020. Outras áreas capixabas também registraram crescimento neste início de ano. O mapeamento dessa violência deve ser progressivo.

O Espírito Santo precisa de todos os seus atores da segurança pública neste momento crucial. Permanece o protagonismo da secretaria estadual, mas é urgente a organização de algo similar a uma força-tarefa, envolvendo também o Ministério Público Estadual, o Judiciário e a própria sociedade civil. Uma união de forças para que se busquem estratégias mais hábeis de enfrentamento, não somente no campo operacional. 

Investimentos em inteligência e o aumento da capacidade investigativa são primordiais, devem priorizar os orçamentos para a área. Não necessariamente com mais recursos, mas com rearranjos na gestão, que imponham foco nas ações capazes de cercar o avanço da criminalidade. A repressão é necessária, é a imposição do Estado na manutenção da ordem, mas o efeito é apenas pontual se não houver estratégia. É hora de reunir as melhores cabeças, especialistas e estudiosos do tema, para uma ação integrada que freie essa tendência crescente nos índices de homicídios.

Só assim será possível efetuar prisões de qualidade, encarcerando lideranças que precisam ser retiradas de circulação. E como há conhecimento da capacidade sucessória nas cúpulas dessas organizações criminosas, permanece a cartilha da presença perene do Estado, propiciando educação, saúde e oportunidades para que o tráfico não permaneça acolhendo jovens sem perspectivas.  Os números crescentes de homicídios e as novas dinâmicas do crime exigem uma reação organizada, para evitar que os tempos sombrios, de crises crônicas de segurança pública, voltem a se instalar no cotidiano das cidades.

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