Um levantamento da Polícia Militar, trazido a público pela colunista Vilmara Fernandes, expõe os bairros da Grande Vitória nos quais traficantes usam barreiras físicas, com lixeiras, sacos de areia, entulhos e o que mais estiver à disposição, para impedir a atuação da Polícia Militar ou das guardas municipais. É como se tentassem estabelecer a fronteira dos seus domínios, delimitando onde o Estado não pode entrar.
Dois dias depois da publicação em A Gazeta, uma viatura da Polícia Militar foi alvo de tiros ao encontrar uma dessas barricadas no bairro Gurigica, em Vitória, durante o patrulhamento da região nesta quarta-feira (31). E isso não é novidade: relatos sobre barricadas em boletins feitos por policiais militares mostram que elas se tornaram “ações rotineiras” nas regiões com pontos de distribuição de drogas.
Obviamente, pela forma simplória como são erguidos, não são obstáculos intransponíveis, servindo apenas para dificultar o acesso dos policiais aos bairros e, assim, ganhar tempo e facilitar a fuga dos criminosos, que também contam com o apoio de olheiros que avisam, com assobios, a chegada das viaturas. Mas essas barreiras também simbolizam uma divisão que afeta os próprios moradores.
É importante saber que, internamente, a Polícia Militar já se mobiliza diante do problema. Inclusive com o reconhecimento das centrais de videomonitoramento do crime, cuja infraestrutura para patrulhar os bairros é montada “obrigando os moradores a instalar câmeras em locais estratégicos em troca de wi-fi com internet ilimitada”. Ora, é bom lembrar que o tráfico pratica a extorsão de empresários em bairros da Grande Vitória para controlar os serviços de internet. Os enredos do crime estão todos intrincados.
O avanço das teias da criminalidade precisa ser contido com lei e ordem. Assim como nos demais bairros, a sociedade está regida por regras comuns, e nenhum grupo pode se sobrepor a elas, estabelecendo limites e imposições à população. Mas tão importante quanto isso é o fortalecimento da cidadania, proporcionado com o desenvolvimento pleno dessas regiões conflagradas.
A própria percepção da urbanização tem um papel crucial nesse resgate. É assim que as pessoas se sentem parte das cidades. Nas propostas incluídas em um estudo da própria PM apresentado ao governo do Estado para reduzir a criminalidade, está em destaque a melhoria da infraestrutura local, como a pavimentação, a abertura de novas ruas e alargamento das vielas e becos, além de regularização fundiária e iluminação pública. A urbanização, com seu senso de pertencimento, consegue derrubar qualquer barricada.
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