Se não houver uma mínima capacidade de aprendizado com os erros do passado nem tão distante, o Brasil não vai conseguir sair do atoleiro financeiro. A periclitância da situação fiscal brasileira deve ser de algum modo pedagógica, sobretudo quando se permanece insistindo na primazia dos investimentos públicos. Não que o Estado brasileiro deva abdicar completamente de injetar recursos próprios em infraestrutura, a sabedoria está na escolha correta de alocação desse investimento. A onipresença estatal não é só dispendiosa, ela é contraproducente. O poder público precisa abandonar a pecha de provedor e se aprimorar como gestor e regulador.
A esta altura, com a crise sanitária que deverá ser por um bom tempo o calcanhar de Aquiles do gestor público não só no Brasil, a promessa do investimento privado parece uma Shagri-lá inalcançável, que habita somente os sonhos dos liberais. Mas esse projeto só permanece onírico se não há condições ideais de ser implementado. O que, lamentavelmente, é a situação atual do país.
Na semana passada, os economistas Arminio Fraga e Pérsio Arida, durante um evento em São Paulo, deram declarações contundentes sobre como o ambiente é inóspito por motivos que estão além das políticas econômicas. A qualidade da democracia e as posições governamentais para as questões ambientais e sanitárias também se tornaram fatores que podem repelir o investidor, simplesmente porque ele deseja, acima de tudo, segurança para aplicar seu dinheiro. O Brasil tem sido sinônimo de instabilidade, o que afugenta não só o capital externo. O investidor nacional também não é bobo.
O ex-ministro Arminio Fraga é categórico sobre a necessidade de recuperação da confiança institucional. E também reforça que o governo está deixando passar a oportunidade de implementar suas reformas diante de um Congresso com forte apelo reformista. Não é segredo para ninguém o quanto o sistema tributário arcaico do país atrapalha os investimentos.
Já Arida, que presidiu o BNDES e o Banco Central, não acredita em limitação do capital internacional. “Coloque um bom projeto, com uma taxa de retorno adequada e boas garantias jurídicas que vai ter enorme competição por ele. Não existe argumento para aumentar investimento público neste momento, a não ser o argumento óbvio e nostálgico dessa piscina sem água na qual queremos volta e meia mergulhar”, afirmou o economista, em matéria publicada pela Folha de S.Paulo.
Este vídeo pode te interessar
O Brasil depende primordialmente de organização para recuperar a credibilidade e atrair investimentos. O governo federal precisa parar de emitir sinais tão confusos, com distâncias olímpicas entre suas intenções e suas práticas. O Brasil pode até estar acima de tudo no lema, mas não pode continuar se afastando do mundo.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.