Em boa parte do mundo, o clima é de guerra. No momento em que o Brasil se prepara para a fase mais dura da batalha contra a pandemia do coronavírus, com o aumento exponencial de casos que se prenuncia com a transmissão sustentada, as preocupações se voltam para a primeira linha de defesa: os profissionais de saúde. É preciso esforço concentrado para que médicos, enfermeiros e técnicos, termômetros do Brasil nessa guerra, não migrem do front para a lista dos enfermos.
Promessas já foram feitas, mas o dia a dia nos hospitais ainda tem sido de escassez de material e de mão de obra. Em vários locais, falta até o básico. No Hospital de Cobilândia, em Vila Velha, o atendimento chegou a ser suspenso devido à carência de equipamentos como máscaras e luvas, essenciais para a proteger profissionais e pacientes. No SUS, que já enfrenta problemas crônicos de má gestão, superlotação e sucateamento, os desafios serão ainda maiores. As redes pública e privada terão que lidar não apenas com a curva ascendente da Covid-19 como também com males já conhecidos, entre eles gripe e dengue.
Os riscos são imensos. Na semana passada, quando a Espanha registrava 40 mil casos de coronavírus, cerca de 5.400 eram de profissionais da saúde — por volta de 14% do total de infectados. Em São Paulo, uma semana após manifestar apreensão com o contágio de médicos e enfermeiros, o líder do centro de contingência contra a doença naquele Estado, o infectologista David Uip, foi diagnosticado com Covid-19. O temor é que, sem equipamentos individuais de proteção, essa realidade se alastre pelo Brasil. É um duplo sofrimento: esses contágios não apenas engrossam a lista de doentes como retiram soldados de combate.
A falta de máscaras, luvas, aventais e gorros não é uma exclusividade do Brasil, é um problema planetário. Até este domingo (29), já foram contabilizados mais de 720 mil casos de coronavírus no mundo, com muitos sistemas de saúde enfrentando o colapso. Com pouco mais de quatro mil confirmações, o Brasil está ainda no “pé da montanha”, como definiu o ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Até agora, a pasta tem se mostrado empenhada em resolver as questões técnicas e logísticas do combate ao Covid-19.
O Brasil já impediu a exportação de insumos cruciais na batalha - além dos EPIs, respiradores e monitores também estão na lista - e firmou parcerias para aumentar a produção das máscaras N95, as mais eficazes, que serão distribuídas a médicos e enfermeiros, para proteger esses funcionários e evitar que eles se tornem vetores da doença em ambiente intra-hospitalar. O Ministério da Saúde já mandou para os Estados 20% dos equipamentos que conseguiu comprar até o momento. Cancelamentos de voos atrasaram o envio dos 80% restantes, mas eles já estão a caminho pela malha viária, segundo a pasta. A contratação de mais médicos e o aumento do número de leitos de UTI também integram os esforços.
A atuação das secretarias estaduais e municipais em todo o país também têm a de reunir todas as armas possíveis, com a contratação de profissionais, a aquisição de insumos e até mesmo a construção de hospitais de campanha. Se o país seguir as políticas de isolamento social, que minimizam o tsunami de pacientes que devem acorrer a hospitais, unidades de atenção básica e UPAs, o sistema de saúde brasileiro poderá ter fôlego para enfrentar essa batalha.
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