Há quase um ano, quando a crise do coronavírus se encaminhava para tomar proporções pandêmicas, os rumos da Educação diante das iminentes restrições de circulação preocupavam o planeta inteiro. No Brasil, o desassossego era ainda maior, em um país no qual a desigualdade educacional nunca deixou de ser a realidade, com melhoras pontuais que jamais chegaram a se firmar a ponto de acolher mais de uma geração. Mas a pior perspectiva, naquele momento, era a de que os gestores do setor lavassem as mãos, em um momento no qual decisões ágeis passariam a ser necessárias.
O Ministério da Educação ainda estava ocupado por Abraham Weintraub, figura que até aquele momento só havia usado o cargo como palco para polêmicas vazias. De abril de 2019 a junho de 2020, período em que comandou a pasta, deixou a marca da nulidade. E os efeitos dessa falta de ação se fizeram sentir no momento em que o setor mais careceu de atenção no país. Milton Ribeiro, desde então no cargo, pode até ser menos exaltado ideologicamente, mas segue o caminho da inação propositiva.
O aprofundamento da desigualdade educacional tem se concretizado com as discrepâncias entre o ensino público e o privado. Não quer dizer que alunos de escolas particulares tenham tido o melhor dos anos escolares em 2020, pelo contrário. Tampouco o corpo docente dessas escolas não tenha precisado se desdobrar com uma nova perspectiva pedagógica, que exige mais do professor que divide sua atenção entre o ensino presencial e o remoto. Mesmo com todos os desgastes, a comparação com a educação pública, no geral, chega a ser cruel.
Os relatos de alunos que atravessaram o ano sem acesso ao ensino remoto por carência de infraestrutura básica, um celular ou acesso à internet, não são pontuais, são reflexo de um abandono que só foi transferido da escola para casa. As secretarias estaduais de educação ainda fazem sua parte, como no Espírito Santo, que anunciou a entrega de notebooks para 75 mil alunos e professores da rede estadual neste ano letivo de 2021. Mas quando se observa a paisagem nacional, a falta de coordenação e gestão é o que ganha mais evidência.
Diretrizes educacionais determinam que a dedicação diária ao estudo seja de quatro horas. O tempo de estudo médio até agosto de 2020, de acordo com dados do IBGE, foi de 2,37 horas/dia útil. Os estudantes mais ricos, dos 6 aos 15 anos, conseguiram ficar acima dessa média, com 3,19. Já os mais pobres ficaram abaixo, com 2,04. Foi um ano de derrotas educacionais inevitáveis, mas o impacto na aprendizagem dos alunos do ensino público terá efeitos duradouros na formação desses estudantes. Impactos que serão sentidos na vida profissional, com caminhos bem mais árduos para uma melhora de condição social.
A educação é um dos grandes passivos do Brasil e com a pandemia precisa de mais ação governamental. É determinante, por exemplo, que professores e profissionais da área ganhem prioridade na fila da vacinação, para ao menos propiciar algum retorno à normalidade na prática educacional, sem colocar esses profissionais em riscos.
Sindicatos da categoria, que ameaçam paralisações, devem buscar mais entendimento, sob a responsabilidade de provocar ainda mais prejuízos educacionais. E é fundamental mais a assertividade do MEC, um dos ministérios mais apagados em um dos momentos mais cruciais para a educação brasileira em sua história recente. A sociedade civil deve se mobilizar para que decisões sejam tomadas, em aspecto contingencial.
A passividade com que a educação tem sido tratada pelo governo federal nesta pandemia será a ruína do futuro, em todos os aspectos. A educação é a base que determina a qualidade de vida, o crescimento econômico, a redução da criminalidade, circundando a formação cidadã de que o país tanto necessita. A omissão de hoje continuará a cobrar seu preço por muito tempo. E o Brasil não tem mais tempo a perder.
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