"Teremos os investimentos voltando, subindo. Além de educação e tecnologia, fatores até mais importantes. Teremos um fator de sustentação de crescimento. Não estou prevendo. Estou descredenciando os analistas que estão politizando e criando falsas narrativas em torno de fatos". Todo esse otimismo contido nas declarações de Paulo Guedes destoa do fiasco da economia brasileira no terceiro trimestre. São dois países erguidos sob perspectivas nitidamente diferentes.
O Brasil volta a apresentar um quadro de recessão técnica, como em 2020, após dois trimestres seguidos de queda no Produto Interno Bruto (PIB). De abril a junho, o recuo foi de 0,4%, seguido pelo período de julho a setembro com retração de 0,1%. Não significa que o país esteja em recessão de fato, mas um alerta que não pode ser ignorado, colocando em risco as projeções de um crescimento em 2021 próximo a 5%. Mas, na Esplanada dos Ministérios, o recado parece ter sido ignorado.
O ministro da Economia, um dia após a divulgação dos números do IBGE, cravou que o "Brasil está condenado a crescer", uma sina que, para os observadores mais atentos, segue sem se concretizar. O Brasil parece estar verdadeiramente condenado a crescimentos pontuais, sem a sustentabilidade que é a verdadeira força da economia. Mas a narrativa de um país prestes a crescer de forma sólida e contínua é uma fantasia que, a esta altura, cabe a Paulo Guedes.
As estatísticas apontam também que a produção industrial mensal acumula cinco quedas em série, assim como o Índice de Atividade Econômica do Banco Central registra dois recuos seguidos. A escalada da inflação, atingindo os dois dígitos por ano, com os juros mais altos como estratégia de contenção, aponta para distintos cenários de estagnação, estagflação ou recessão. Nenhum deles, obviamente, positivo. A recuperação da atividade econômica também encontra obstáculos no mercado de trabalho deteriorado.
Se o PIB brasileiro terá crescimento em 2021, isso se dará pela comparação com a base deprimida de 2020, em grande parte. O primeiro ano da pandemia teve queda histórica. O Brasil deve continuar com performance abaixo da média mundial, já que o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de 5,9% da economia global em 2021. Para o país, a projeção é de 5,2% no mesmo ano.
Aos que comandam o Brasil, falta competência para colocar a economia nos trilhos, enquanto outros países se recuperam da crise sanitária com mais consistência. Além da escolha das prioridades equivocadas, reiteradamente com ameaças ao equilíbrio fiscal. Será que Paulo Guedes previa, ao embarcar no governo, ser um vilão do teto de gastos ao apoiar a PEC dos Precatórios? "É o menos ruim que pode acontecer com o Brasil", defendeu o ministro. Faz falta, nessas horas, alguém que pense no que é o melhor para o país.
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