Mais uma vez, o Brasil atravessa um período de escassez de vacinas em decorrência do atraso na entrega de insumos para a produção, importados da China. No Espírito Santo, a falta da AstraZeneca já afeta o estoque estadual, o que pode ter impacto na aplicação da segunda dose em alguns municípios, justamente no momento em que o Ministério da Saúde anuncia a redução do intervalo entre as duas doses de dez para oito semanas, decisão já tomada em território capixaba quando não havia risco de interrupção da oferta do imunizante.
Nesta terça-feira (14), a Fiocruz informou o envio de um novo lote com 1,7 milhão de doses ao Ministério da Saúde, a primeira remessa em um mês, com a garantia de que as entregas semanais serão mantidas até o fim de setembro. A notícia traz alívio para o Programa Nacional de Imunização, mas não cessa a preocupação com as intempéries que, desde o início da vacinação contra a Covid-19, em janeiro, ameaçam o seu ritmo. A falta do imunizante nesta semana fez cidades como São Paulo já passarem a adotar a intercambialidade de vacinas, com a aplicação da Pfizer como segunda dose em quem tomou a primeira da AstraZeneca, medida já respaldada pela ciência.
Enfim, confirmando-se as remessas da Fiocruz, a situação deve se normalizar, o que não muda o panorama instável da distribuição de vacinas no país. O problema mais recente gira em torno do acesso ao ingrediente farmacêutico ativo (IFA), cuja fabricação nacional ainda se encontra em processo de validação, o que mantém a dependência na compra do insumo.
Na última sexta-feira (10), a instituição anunciou a previsão de que, até o fim deste ano, deve entregar 6 milhões de doses produzidas com o insumo fabricado no Brasil. Em maio, o atraso no envio do IFA já havia paralisado a produção da Coronavac.
O contrato de transferência de tecnologia entre a AstraZeneca e a Fiocruz e seu Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) foi assinado em 1º de junho, um passo importante para a produção total da vacina no país. Mas enquanto se cumpre o protocolo para a efetivação dessa produção, está em curso uma crise global na cadeia de suprimentos para a produção de imunizantes. Além disso, há ainda dúvidas sobre a capacidade produtiva nacional.
Esses atropelos nas entregas de vacinas, mesmo que pontuais, são também resultado da falta de gerenciamento que marcou o início da jornada vacinal no Brasil. Das revelações do descaso governamental com a compra de imunizantes ainda em 2020 promovidas pela CPI da Covid à dependência tecnológica na produção nacional, é possível ver que as falhas gerenciais também encontram um ambiente com carências estruturais históricas, em um país que se mantém na retaguarda da educação e do desenvolvimento científico.
A constatação é de que o Programa Nacional de Imunização funciona aos solavancos, sem estratégias contingenciais, e mesmo assim de certa forma é preciso comemorar que, neste setembro, 44% da população adulta do país já esteja com o esquema vacinal completo. O sistema de saúde tem conseguido cumprir seu papel ao levar a vacinação para as ruas, com Estados e municípios em grande parte levando esse mérito. O Espírito Santo mesmo é um exemplo.
Com a necessidade de uma 3ª dose para idosos, profissionais de saúde e imunossuprimidos, fica evidente o caráter dinâmico da imunização contra a Covid-19. Nada é estático, protocolos podem ser mudados a qualquer momento, tendo como meta a proteção da população. Decisões sobre intercambialidade, redução de intervalo e outras que talvez ainda nem estejam no radar, desde que seguidas as orientações da ciência, precisam ser tomadas em tempo hábil. E, para qualquer cenário, seja de mudança de percurso, seja de manutenção dele, uma coisa é certa: é imprescindível que as vacinas estejam disponíveis.
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