Não há previsão de desaceleração da inflação no país neste ano, o que tem um impacto direto no crescente empobrecimento da população. O IPCA-15, a prévia da inflação oficial, ficou em 0,89% em agosto, um aumento de 0,17%, na comparação com percentual registrado em julho (0,72%). É a maior taxa para o mês desde 2002, enquanto o acumulado dos últimos 12 meses chegou a 9,30%, acima do teto da meta. A perspectiva de aumento contínuo da taxa básica de juros até o fim do ano segue se consolidando.
Decisões macroeconômicas são tomadas para tentar segurar os preços, enquanto a instabilidade pandêmica segue como um freio para uma retomada vigorosa da economia, além da própria inabilidade do governo federal em eleger prioridades. Neste agosto inflacionário (os dados do IPCA foram coletados entre 14 de julho e 13 deste mês), apesar de a alta ter sido puxada pelos aumentos da energia, do gás e da gasolina, há uma pressão sobre quase todos os itens de consumo, incluindo alimentação e bebidas. O preço da comida pesa no orçamento das famílias mais pobres.
Nesse cenário de desolação social, um estudo do economista Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), confirma o crescimento da pobreza no país, na comparação do primeiro trimestre de 2019 com o mesmo período de 2021: um salto de 25,2% para 29,5%. No Espírito Santo, esse percentual subiu de 22,4% para 27,6%. O cálculo considerou a classificação de pobreza do Banco Mundial, de renda per capita de até US$ 5,50 por dia, ou aproximadamente R$ 450 por mês.
Há considerações a serem feitas sobre o levantamento, acima de tudo pelo fato de o auxílio emergencial não estar contemplado no período avaliado, em 2021. Mas vale lembrar que o benefício, quando voltou a ser distribuído em abril deste ano, teve valor bastante reduzido, o que também teve impacto na perda de renda da população.
Para especialistas, a pobreza e a pobreza extrema devem continuar em níveis mais elevados que os observados antes da pandemia por algum tempo. Nem mesmo o Auxílio Brasil, o novo Bolsa Família que deve começar a ser pago em novembro, com o fim do auxílio emergencial, deve conseguir reverter o quadro de degeneração econômica e social.
A comida deve continuar chegando mais cara à mesa dos mais pobres. Isso quando chegar. No Brasil, a estimativa é de que famílias sem acesso pleno à alimentação dependem de um valor mínimo necessário 85% maior do que o que efetivamente gastam para comprar alimento.
Com a inflação corroendo a renda, a situação é cada vez mais grave, com mais famílias enfrentando quadros de insegurança alimentar. O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil apontou que, em 2020, 19 milhões de pessoas viviam em situação de fome no país. Em 2018, a fome atingia 10,3 milhões.
O avanço da pobreza é o que torna a crise econômica visível e incontestável, é quando a tragédia provocada pelas más decisões dos governos ganha rosto. A pandemia, esse ponto fora da curva, não foi uma vilã solitária: no Brasil, ela encontrou um ambiente econômico já em frangalhos desde a metade da década passada.
Um país das sucessivas crises políticas, incapaz de engatilhar as reformas que modernizem o Estado e promovam mais justiça social. A incapacidade de organizar uma reação, que envolva a sociedade, aprofunda ainda mais o abismo brasileiro.
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