Com sua admirável concisão, o saudoso Millôr Fernandes já dizia que acabar com a corrupção é sempre o maior objetivo de quem ainda não chegou ao poder. No Brasil, esperar o pior de quem governa e daqueles que rodeiam os círculos mais altos se tornou um esporte nacional, lamentavelmente confirmado com uma frequência incômoda de escândalos. A prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro vem reforçar esse desconforto.
O pastor e ex-chefe da pasta mais importante em qualquer projeto de desenvolvimento de uma nação está associado a um esquema de propina em troca da liberação de verbas federais que ganhou o apelido de "balcão do MEC". Pobre de um país que coleciona petrolões, mensalões, anões do Orçamento — isso quando não surge um orçamento secreto que, por mais injustificável que seja, só consegue causar indignação superficial.
O "balcão do MEC" trouxe, contudo, alguns personagens inusitados: as investigações apontam envolvimento direto de religiosos. Um deles é o pastor Gilmar Santos, investigado como um dos lobistas que atuava em nome do MEC na cobrança de propinas e que também foi preso nesta quarta-feira pela Polícia Federal. Até barras de ouro eram pedidas como moedas de troca, como denunciaram prefeitos abordados pelos pastores.
O escândalo de corrupção no Ministério da Educação causa ainda mais incômodo pelas circunstâncias: no momento em que o país mais precisava de um direcionamento na educação, após o fechamento de escolas na pandemia, oportunistas tomaram de assalto recursos que deveriam ser bem encaminhados.
Não é exagero dizer que, na gestão Bolsonaro, não houve a construção de nem sequer uma política educacional, só manipulação de interesses. Enquanto Ricardo Vélez e Abraham Weintraub tentaram em vão promover uma guerra cultural e acabaram abatidos, Milton Ribeiro optou por discrição pública e, como apontam as investigações, indiscrição no trato com os recursos públicos.
É emblemático que Bolsonaro, assim que o esquema do gabinete paralelo foi revelado pelo Estadão em março, tenha afirmado que colocaria a "cara no fogo" pelo seu ministro da Educação em uma live, na ocasião. Após a prisão, o presidente afirmou que "se a PF prendeu, tem um motivo". A cara, ao que parece, queimou.
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