Brasília ignora as prioridades do país com Orçamento 2022

Redução recorde no nível de investimentos é um dos equívocos que só servem para alimentar o descrédito e chancelar a falta de propósitos de uma gestão na qual o sucesso eleitoral é mais importante do que o avanço de uma nação

Publicado em 26/01/2022 às 02h00
Presidente
O presidente Jair Bolsonaro. Crédito: Alan Santos/PR

As prioridades nebulosas de um governo que se entregou à politicagem (não confundir com a política, essencial no jogo democrático) ganham relevo com a sanção do Orçamento 2022 pelo presidente Jair Bolsonaro, que atingiu o nível mais baixo de investimentos públicos da história do país, de acordo com levantamento do Estadão.

E o que isso significa para o cidadão? Que a gestão atual coloca como coadjuvantes as entregas em infraestrutura, saúde (em plena continuidade pandêmica) e educação, em benefício do engordamento das opacas emendas do relator e do fundo eleitoral. 

Sem os vetos do presidente, o valor destinado aos investimentos já registrava o recorde negativo. O projeto aprovado pelo Congresso em dezembro trazia o valor de R$ 43,5 bilhões, que após a pena de Bolsonaro despencou para R$ 42,3 bilhões. A análise do Estadão enumerou os ministérios com mais dinheiro para investir em 2022ministérios com mais dinheiro para investir em 2022: Defesa (R$ 8,8 bilhões) e Desenvolvimento Regional (R$ 7,5 bilhões). Já Infraestrutura (R$ 6,5 bilhões), Saúde (R$ 4,6 bilhões) e Educação (R$ 3,4 bilhões) terão menos verba para seus investimentos.

Não é preciso capacidade interpretativa muito apurada para entender as prioridades de Bolsonaro. O Ministério da Defesa tem um peso estratégico para o governo, ainda mais relevante em ano eleitoral. Já o Desenvolvimento Regional mesmo levando uma tesourada de R$ 460 milhões ainda se manteve à frente dos investimentos, com recursos do orçamento secreto.

A distribuição de dinheiro aos aliados políticos teve aprovação presidencial, com R$ 16,48 bilhões destinados ao orçamento secreto. A blindagem orçamentária também alcançou destinações com impacto nas eleições deste ano, como Auxílio Brasil, o reajuste de servidores e o fundo eleitoral. Por mais que o valor do recurso para a campanha deste ano tenha sido mantido nos R$ 4,96 bilhões e não chegado aos R$ 5,7 bilhões, como queriam os parlamentares, o fato é que os partidos terão mais que o dobro do valor destinado para esse fim em 2018.

O país atravessa uma crise financeira, com a credibilidade em baixa, e o governo não tem a capacidade de efetivar uma governança das suas despesas, elencando prioridades que podem alavancar a economia. Investimentos em infraestrutura, com a participação da iniciativa privada, são essenciais para aumentar a competitividade de todos os setores, do agronegócio à indústria. A educação merece cuidados, e a saúde pública tem urgências evidentes.

Mas, para as mentes pensantes de Brasília, fisgar o apoio de parlamentares com emendas do relator, direcionadas sabe-se lá para quais propósitos, é mais importante. Inundar os partidos com verbas para campanha eleitoral também. E vale contextualizar que o Centrão conseguiu abocanhar a Casa Civil, responsável pela distribuição dos valores no Executivo. A raposa vigiando o galinheiro.

É tudo tão sem sentido. Decisões orçamentárias tão equivocadas só servem para alimentar o descrédito e chancelar a falta de critérios e propósitos de uma gestão na qual o sucesso eleitoral é mais importante do que o avanço de uma nação. O Brasil tem emergências, a sirene não para de tocar. Mas, em Brasília, todos estão convenientemente surdos.

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