Espírito Santo, o ano é 2023: as imagens falam por si só. A ES 248, que liga Linhares a Colatina, virou um tapete de buracos dos quais é praticamente impossível desviar. Os motoristas que passam por ali dizem que precisam escolher as crateras a serem encaradas pelos veículos, já que elas ocupam as duas pistas, na extensão e na largura. Um queijo suíço, um tapete furado... mas a analogia perfeita é mesmo a do campo minado.
As chuvas não somente acentuam a formação desses buracos, como os deixam alagados. As cenas exibidas pela TV Gazeta dão a dimensão da baixa qualidade do asfalto, isso onde ele ainda existe. Com o aumento do tráfego por conta dos desvios que foram necessários após as chuvas que danificaram a BR 101 no fim do ano passado, o risco de acidentes se acentua.
Espírito Santo, o ano é 2004. A pavimentação da ES 248 foi anunciada com pompa e circunstância, como um dos grandes investimentos no Estado daquele ano: uma rodovia construída para criar uma nova rota turística na Região Norte, ligando Colatina e Linhares por entre as belas paisagens da Mata Atlântica, margeando o Rio Doce e chegando à Lagoa Juparanã. Rodovia que se estenderia, posteriormente, até o Pontal do Ipiranga.
A redução de 50 quilômetros na distância entre Colatina e Linhares em relação ao percurso pela BR 101 foi muito comemorada. Após seguidos atrasos, a conclusão da obra foi anunciada para 2009. Em janeiro de 2010, um leitor de A Gazeta fez um relato pouco otimista sobre a recém-inaugurada rodovia:
"Ao retornar do feriado onde enfrentei problemas de infraestrutura, decidi dar um voto de confiança às autoridades passando pela recém-inaugurada Rodovia ES 248, que liga Linhares a Colatina. Nos primeiros quilômetros tive a sensação de que a excelente condição da pista apagaria a impressão ruim verificada nos balneários. No entanto, a esperança foi dando lugar à sensação de viver em um país que inaugura obras inacabadas. Em dois trechos a rodovia está incompleta: no primeiro, falta a construção de uma ponte, e no outro falta asfalto em cerca de 500 metros cheios de buracos que danificam os veículos e a paciência dos motoristas."
Voltemos, então, para o presente. O estado lamentável da ES 248 em 2023 é resultado de uma cultura da gambiarra e da falta de zelo nas obras públicas. Mesmo quando foi inaugurada, a rodovia não era considerada irretocável e já apresentava problemas para os usuários. Operações tapa-buraco quase sempre são paliativas, o problema acaba voltando na primeira chuva. Rodovias foram feitas para aguentar tráfego pesado, mas a fragilidade asfáltica como a da ES 248 mostra uma perda de qualidade injustificável.
O mundo avançou em tecnologia em tantas áreas, há soluções de engenharia cada vez mais modernas para vários setores. Fica difícil crer que não existam materiais ou técnicas que garantam uma pavimentação mais resistente, que "aguente o tranco". Uma infraestrutura tão fragilizada afeta diretamente a produção de riquezas e, sobretudo, a segurança das pessoas. Vale lembrar que a ES 248 foi criada para favorecer o turismo.
O Departamento de Edificações e de Rodovias (DER-ES) informou que já foram executados 6 km de recuperação do asfalto e estão previstos mais 8 km nos próximos dias. Também anunciou obra para melhorar a extensão que vai do início da ES 248, também em Linhares, até o trevo de entroncamento com a ES 245, que dá acesso ao município de Rio Bananal. A previsão de conclusão é no segundo semestre de 2024.
O passado e o presente da ES 248 já estão escritos. O que será do futuro?
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