Enquanto a Covid-19 teve seu impacto controlado com as vacinas, sobretudo no que diz respeito a internações e mortes, passando a ser uma doença com a qual se aprendeu a conviver, a velha conhecida dengue voltou ao seu protagonismo. Em março passado, o cenário passou a ser considerado epidêmico no Espírito Santo.
Os números mais recentes divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) em seu boletim epidemiológico assustam: 70 pessoas morreram no Espírito Santo neste ano, entre janeiro e o último dia 17. Número 11 vezes maior que o registrado em todo o ano de 2022, quando ocorreram seis mortes.
Um respiro para esses dados sobre a mortalidade da doença em 2023 é que, após a explosão de notificações nos primeiros meses do ano, o número de casos semanais vem sofrendo uma desaceleração. Em meses como março e abril, os casos notificados em uma semana chegavam a 10 mil, enquanto neste mês de junho, em sete dias, as notificações caíram para 4 mil. Possivelmente pelo início de uma temporada com menos chuvas. De janeiro a 17 de junho, 143 mil casos foram registrados no estado.
A explicação para um crescimento tão expressivo no número de mortes pode estar na volta da circulação do sorotipo 2 da doença após quatro anos no Estado, em rastreamento realizado pelo Laboratório Central (Lacen) em março. A dengue tem quatro sorotipos. Quando uma pessoa é infectada por um deles, ela tem imunidade temporária apenas para esse, ficando vulnerável aos demais. E os casos graves da doença são mais comuns justamente em pacientes que já tiveram dengue e são infectados novamente por outra cepa.
Em maio, um estudo da Fiocruz identificou quatro casos de infecções pelo sorotipo 3 neste ano no Brasil, três em Roraima e um no Paraná. Com mais uma cepa em circulação no país, o risco aumenta. As autoridades de saúde pública precisam se manter em alerta, com estratégias sanitárias eficientes. Campanhas e políticas públicas de controle do Aedes aegypti, direcionadas pelos municípios com amparo estadual e federal, são imprescindíveis, mas diante de um número tão expressivo de mortes o enfoque na prevenção dos casos graves que podem progredir para a morte se tornam uma prioridade.
Sabe-se que esse retorno da dengue faz parte de suas características sazonais. A cada 4 ou 5 anos, a doença volta com força. E as vacinas existentes ainda não fazem parte do programa nacional de imunização, o que deveria ser urgente, sobretudo nesses períodos de explosão de casos. Quem já teve dengue comprovada por exame de sangue tem acesso há alguns anos ao imunizante chamado Dengvaxia na rede privada. Ela protege contra uma segunda infecção, mais agressiva.
Já outra vacina mais recente, a Qdenga foi aprovada pela Anvisa e começou a ser aplicada nesta semana em clínicas, laboratórios e farmácias, com a dose podendo custar até R$ 400. Esse imunizante pode ser utilizado tanto em pessoas que já tiveram dengue quanto naquelas sem histórico da doença.
Não há ainda definição do Ministério da Saúde sobre a disponibilização do imunizante no Sistema Único de Saúde (SUS), o que depende da avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) sobre a eficácia, a segurança e o custo-benefício do produto. Um processo que leva ao menos seis meses.
É importante que as vacinas sejam adotadas pelo SUS o quanto antes, com uma estratégia de imunização eficiente para reduzir a mortalidade dessa doença que, com as mudanças climáticas, tende a ter seus ciclos cada vez mais frequentes e intensos.
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