O carnaval não é uma invenção brasileira, mas foi por aqui que cresceu até tornar-se a maior festa popular do país. A partir desta sexta-feira (21), milhões de turistas, incluindo estrangeiros, curtem a folia de Norte a Sul, mas o visitante que estava fazendo suas malas para o Espírito Santo nesta semana não sabia o que encontraria em algumas cidades litorâneas, porque as prefeituras não haviam divulgado a programação. Parecem estar, como diz a canção de Chico Buarque, se guardando para quando o carnaval chegar.
Até a tarde de quinta-feira (20), as administrações prometiam: vai ter. Só não se sabia o quê. É uma desorganização que pode se traduzir em desperdício de dinheiro público. Se tomaram a decisão de investir, é preciso dar a devida visibilidade aos eventos, caso contrário desestimulam potenciais frequentadores. Uma displicência incompreensível diante do impulso que o feriado mais lucrativo do país oferece à economia, por meio das cadeias do turismo e do entretenimento.
As notas sobre o assunto nos canais oficiais eram surpreendentes, no mau sentido. A Prefeitura de Aracruz anunciou em seu site que marchinhas e shows vão animar o carnaval na cidade, mas não esclareceu onde, nem em que horário, muito menos quais são as atrações. A parca informação saiu com um impressionante atraso, apenas na quarta-feira (18), e só foi detalhada na tarde do dia seguinte, pouco mais de 24h antes da abertura da programação. “Os foliões podem vir para Aracruz. O município está pronto para recebê-los”, dizia o texto que nada explicava.
Em Itapemirim, o mesmo cenário. A administração do município do Sul do Estado assegurava que haveria shows e blocos em três localidades, sem definições. Na quinta, anunciou horários e datas dos shows que começavam... na quinta. Outras cidades litorâneas deixaram para a última hora a divulgação de suas agendas. São Mateus liberou na terça-feira (17); Piúma e Conceição da Barra, na quarta; Marataízes e Presidente Kennedy, somente na quinta.
Alguns desses municípios, no Sul do Estado, foram afetados por fortes chuvas em janeiro, o que torna alguma demora justificável. Até a decisão de não realizar o carnaval seria aceitável, mesmo louvável, se os motivos fossem a necessidade de investir na reconstrução das cidades ou por medida de equilíbrio fiscal. Mas não foram essas as razões e sim falta de planejamento e gestão.
O carnaval precisa ser tratado com mais seriedade pelas prefeituras. Não é uma simples festa para agradar foliões, mas manifestação popular legítima e catalisador da economia, traduzida em impostos e em cada hotel, locatário de imóvel, restaurante, bar, casa de show, loja e trabalhador temporário.
São Paulo fez o impensável neste ano e ultrapassou o Rio de Janeiro como o destino mais procurado por turistas. A prefeitura investiu pouco mais de R$ 10 milhões (o dobro disso veio de investidor privado) e aguarda um retorno de R$ 2,5 bilhões para a cidade. No Rio, quatro dias da festa de Momo movimentam quase o mesmo montante de um semestre inteiro, segundo a Fecomércio. Os parâmetros podem ser diferentes nesses polos da folia, mas a lógica não. Quem vê as prefeituras do Espírito Santo paradas, distantes da folia, garantem que elas não sabem investir.
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