A solidariedade que constantemente floresce após tragédias como a ocorrida no Sul do Estado está sempre em tensão com comportamentos que merecem total repúdio. É a outra face da moeda. Em Iconha, um carro que foi levado pela enchente e ganhou destaque em matéria publicada por este jornal por ter ficado pendurado na beira do rio pode até ter resistido à força das águas, mas não à sordidez humana.
Quando o nível do rio voltou ao normal, o proprietário foi até o local para recuperar o veículo. Decerto, estava preparado para encontrar as avarias causadas pela correnteza, mas não um carro depenado: sem rodas, bateria, rádio e outras peças. Tudo o que tinha algum valor no Gol vermelho foi levado.
Não foi diferente em outras situações, após o temporal do dia 17. O comércio local, que sofreu prejuízos incalculáveis com o tsunami de água doce que atravessou a cidade, também foi vítima de oportunistas, com vários casos de saques registrados. Ao mesmo tempo em que uma rede de solidariedade foi montada. Os bons atos ao menos se sobressaíram à essa degradação.
Os roubos registrados nesse cenário de destruição não se diferem de cenas bem comuns nas estradas, em acidentes envolvendo caminhões de carga. Os saqueadores não têm classe social, apenas seguem a lógica do “achado não é roubado”. É o desejo de se dar bem, mesmo à custa da tragédia alheia. Não é muito diferente de políticos que se apropriam do dinheiro público. A falta de princípios é a mesma.
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Esse efeito manada do jeitinho brasileiro expõe uma sociedade que ainda padece de um déficit de cidadania. Ética também se constrói com educação, com bases firmes que permitam ao indivíduo distinguir o certo e o errado. Só com educação o respeito pelo que é público ou privado tem espaço para se fortalecer e se tornar um padrão de comportamento. E assim a solidariedade passará a reinar absoluta nessas situações em que é tão essencial.
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