Quem matou Araceli e por quê? Há muito mais perguntas do que respostas, 50 anos depois do crime. Esse mistério teve início com o desaparecimento da menina de 8 anos em 18 de maio de 1973, prosseguiu quando o corpo foi encontrado seis dias depois e se manteve intacto por meio século. Com a prescrição do caso, em 1993, será para sempre uma dúvida.
E não é exagero afirmar que a sociedade capixaba nunca mais foi a mesma após o assassinato brutal da menina. Em meio ao crescimento populacional e econômico da Grande Vitória, o caso Araceli forçou uma perda de inocência. Nas décadas seguintes, a violência explodiria nas cidades.
Ao se vasculhar os arquivos da Gazeta de maio de 1973, fica bem evidente que já no início das investigações, entre o desaparecimento da menina na Praia do Suá e o encontro do corpo na região do Hospital Infantil de Vitória, a atuação da polícia e das autoridades foi descuidada e despreparada. Na ocasião, não foi necessário nem mesmo algum distanciamento histórico para se dar conta das deficiências na apuração do caso.
Em editorial do dia 27 de maio de 1973, este jornal fez duras críticas à falta de cuidado da polícia na cena do crime:
Mesmo em um tempo no qual as técnicas científicas para a solução de crimes ainda se mostravam embrionárias, A Gazeta se preocupou com o comprometimento de possíveis provas. A falta de zelo com o local em que o corpo de Araceli foi encontrado foi um absurdo que mereceu a posteridade das páginas do jornal.
Também foi reforçada a necessidade de aprimoramento investigativo diante de um cenário de aumento da violência, com direito a uma previsão que, infelizmente, viria a se concretizar no Espírito Santo nos anos seguintes: o aumento de crimes sem solução.
O editorial também fez o alerta sobre a necessidade de uma polícia mais profissional para encarar os desafios do crescimento da Grande Vitória:
A coleta de provas na fase inicial das investigações, sobretudo no local em que o corpo foi encontrado, teria sido determinante para fortalecer futuras acusações, o que não aconteceu. O caso Araceli se fundamentou, sobretudo, na fragilidade de provas testemunhais, facilmente manipuláveis. As relações contaminadas da polícia com o poder econômico também se beneficiaram dessa precariedade.
Meio século depois, a polícia se profissionalizou e está incontestavelmente mais preparada para finalizar inquéritos, com bases científicas e tecnológicas. O caso Araceli, contudo, deve ser sempre a lembrança de que, por descuido ou omissão, a impunidade está sempre à espreita. O bom trabalho policial é crucial para que a Justiça não falhe.
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