Violento, sangrento, macabro. Adjetivos para descrever o último fim de semana no Espírito Santo não faltam. Com o assassinato brutal de crianças em Conceição da Barra, uma chacina em Vila Velha, tiroteios em bar, homicídios, agressões a mulheres e até uma bomba no meio da rua, o Estado viveu, em um intervalo de 48 horas, um pesadelo da segurança pública. Mas o que falta, então, para a reversão desse quadro?
Apesar de algumas oscilações para baixo em alguns meses deste ano, o número de mortes violentas no Espírito Santo não vem dando sinais de arrefecimento sustentado. Em setembro, foi registrado o segundo menor número de homicídios para esse mês, dentro da série histórica dos últimos 25 anos. Já agosto foi o mês mais violento de 2021. No acumulado do ano, o Estado apresenta redução de apenas 1,6% na quantidade de óbitos, em comparação ao ano anterior.
Qualquer diminuição deve ser comemorada, é claro. Mas é bom lembrar que 2020 não foi um bom ano para a segurança pública. O resultado do período foi um aumento dos chamados crimes letais intencionais, superando em quase 200 ocorrências o número registrado em 2019. Naquele ano, a quantidade de homicídios ficou abaixo de mil, o que não acontecia desde 1996. Além disso, seis cidades capixabas, Cariacica, Linhares, Serra, Guarapari, Vila Velha e São Mateus, aparecem no ranking das cidades brasileiras cuja taxa de crimes letais ultrapassou a taxa nacional.
Nos últimos meses, os episódios têm mostrado uma face ainda mais cruel. Os irmãos de apenas 8 e 10 anos alvejados por adolescentes no Norte capixaba figuram como as vítimas mais emblemáticas de uma guerra que não poupa sangue inocente e que não é nenhuma novidade nestas paragens. Cerca de 80% dos crimes violentos cometidos no Espírito Santo estão relacionados com o tráfico de drogas, de acordo com dados oficiais.
É uma batalha que não se vence sem o poder repressivo do Estado, é verdade, mas que também nunca chegará ao fim sem o aparato de inteligência que desmantele facções, impedindo a reorganização de cúpulas criminosas, que feche a torneira da aquisição de armas e drogas e que corte o contato de lideranças encarceradas com seus comandados.
Mais do que isso, não existe qualquer promoção de segurança pública que não tenha entre seus alicerces a justiça social, que se reflete em educação, acesso a serviços de qualidade, cidadania e oportunidades. Nada que não esteja sacramentado na Constituição. O cumprimento desses deveres do Estado previne não apenas os males orquestrados pelo narcotráfico, como também as mortes por motivos fúteis, os crimes de ódio, os feminicídios, porque são fatores civilizatórios. O Espírito Santo tem a cartilha. Na atual gestão, ela atende pelo nome de Estado Presente em Defesa da Vida. É preciso segui-la diuturnamente para que adjetivos como “sangrento” sejam cortados do calendário capixaba.
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