A volta às aulas neste segundo semestre de 2021 tem um peso histórico sem igual, com o compromisso de redução de danos após 16 meses de pandemia. No Brasil, é a primeira vez que há um retorno massivo às aulas presenciais, como mostrou reportagem do jornal O Globo nesta segunda-feira (26). Um levantamento do Vozes da Educação, uma consultoria técnica formada por profissionais da área, registra que a partir de agosto somente uma rede estadual e três municipais entre as capitais manterão apenas as aulas remotas.
Nas 430 escolas estaduais do Espírito Santo, esta segunda-feira (26) foi marcada pelo retorno obrigatório às salas de aula, em um modelo de revezamento diário, para garantir o distanciamento. Em dias alternados, os 240 mil alunos terão que frequentar a escola, não mais semanalmente. É um passo importante para a retomada do vínculo com professores e colegas, dentro de um processo de recuperação de aprendizagem que será desafiador e não pode mais ser adiado.
A reabertura das escolas se dá em um momento de fase decrescente, embora de forma estável, da curva de contágio no Espírito Santo. Em 16 de julho, chegou-se a quatro semanas seguidas com a taxa de transmissão da Covid-19 abaixo de 1, em um patamar que demonstra que o ritmo da pandemia está desacelerando. Na semana epidemiológica de 2 julho, houve uma oscilação para cima, com indicadores de Estado, Grande Vitória e interior acima de 1. Mas, segundo o acompanhamento do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), com a redução de casos e mortes registrada nas últimas semanas, as taxas devem voltar a cair.
O Vozes da Educação realizou uma pesquisa comparativa sobre o retorno às aulas em vários países. Naqueles em que esse processo foi considerado satisfatório, houve alguns pontos em comum: higienização constante da escola, distanciamento social (proporcionado pelo distanciamento físico, diminuição do número de estudantes por sala e alternância de horários de entrada e saída) e uso obrigatório de máscaras.
Essas medidas estão sendo preconizadas não somente no retorno da rede estadual, mas também nas municipais. Diversos municípios da Grande Vitória e do interior, cujas aulas recomeçam em agosto, vão adotar a alternância diária nos casos em que não é possível estabelecer a distância de 1,5 metro entre os alunos.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou nesta segunda-feira (26) mais uma medida importante nessa reabertura das escolas: os municípios estão autorizados a organizar a testagem em massa de estudantes, professores e funcionários das unidades escolares e terão, cada cidade, 2 mil exames disponíveis por dia. Não haverá obrigatoriedade. O município que decidir realizar os testes nas escolas deverá submeter à Sesa um plano de logística e organização da aplicação.
É fundamental assegurar que o risco de contaminação seja mínimo, sem desconsiderar o fechamento pontual das escolas em casos de novos surtos. Por isso, o monitoramento precisa ser constante e a comunicação com a comunidade escolar, pelo poder público, deve primar pela transparência. O levantamento do Vozes da Educação mostra que nos países que tiveram bons resultados na volta às aulas a resistência da opinião pública foi atenuada à medida que reabertura transcorria com êxito, sobretudo pela sociedade estar sempre bem-informada.
O fechamento das escolas foi o efeito colateral mais dramático da pandemia: uma ação necessária nos momentos mais críticos, mas com consequências ao processo de ensino. Expôs as vulnerabilidades educacionais, muitas delas preexistentes, e cavou ainda mais o abismo da desigualdade. No Espírito Santo, os prejuízos de aprendizagem vão ser contra-atacados com aulas de reforço em português e matemática no nível estadual e também em algumas redes municipais.
O retorno às salas de aula é uma decisão dos gestores públicos tomada com responsabilidade, em um momento de queda de transmissão e de vacinação ampla entre os profissionais da educação. Os cuidados não mudam. Mas a urgência de cuidar da educação desta geração também se impõe.
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