Chove e alaga no ES: a diferença que a prevenção faz

As mudanças climáticas impõem uma virada de chave na concepção da gestão das cidades: catástrofes naturais não são previsíveis, mas diante da frequência esperada para elas, estar preparado é o que pode fazer a diferença entre vida e morte

Publicado em 08/01/2025 às 22h00
Chuva causa alagamentos no Centro de Vitória
Chuva causa alagamentos no Centro de Vitória. Crédito: Leonardo Bicalho

O que fazer quando mais uma tempestade para as cidades, provocando alagamentos e outros transtornos e prejuízos à população? Cobrar das autoridades pode parecer inútil, mas não é. Principalmente em pleno início de mandato nas prefeituras. Os novos prefeitos têm a obrigação de dar atenção a um velho problema. E os que se mantiveram no cargo por mais quatro anos precisam estruturar esse enfrentamento como prioridade.

As mudanças climáticas impõem uma virada de chave na concepção da gestão das cidades: catástrofes naturais não são previsíveis, mas diante da frequência esperada para elas, estar preparado é o que pode fazer a diferença entre vida e morte.

A chuva da última terça-feira (7) no Espírito Santo, volumosa e concentrada em um curto período, provocou os velhos transtornos de sempre, com o registro de pontos de alagamento na Grande Vitória e em cidades do interior. Mimoso do Sul, marcada pela tragédia das chuvas no ano passado, está com dez famílias desalojadas após os temporais dos últimos dias. A prefeitura calcula R$ 7 milhões em prejuízos, principalmente na zona rural.

Na Grande Vitória, com a maré alta, a água subiu quase imediatamente em ruas e avenidas. Mais uma vez. O que tem sido percebido nos últimos anos, sobretudo em função de obras de macrodrenagem, é o escoamento mais rápido dos alagamentos em alguns pontos em que eles eram crônicos, como em alguns bairros de Vila Velha. Ao mesmo tempo, locais que pareciam imunes às chuvas têm surpreendido com mais inundações.

Os investimentos estaduais e municipais existem, em obras de contenção de encostas, macrodrenagem, limpeza de galerias, sistemas de monitoramento das chuvas e estações de bombeamento. Em 2022, um levantamento da Gazeta mostrou que foram investidos R$ 1,2 bilhão nesses projetos entre 2020 e 2022.

Os estragos provocados pela chuva continuam, como visto nesta semana. Mas a própria rapidez no escoamento em algumas áreas mostra que os investimentos dão resultados, reduzindo os danos. O ponto é que eles precisam ser constantes e aprimorados. É um trabalho que não tem fim.

Nas últimas chuvas, o sistema de alerta da Defesa Civil por SMS tem funcionado, mas pode ficar ainda mais ostensivo. Assim como já passou da hora de haver uma maior conexão entre os alertas de chuva e o nível das marés. Um mapa do Serviço Geológico do Brasil (SGB) mostra que há mais de 260 pontos no Espírito Santo com risco de inundação, colocando mais de 108 mil moradores em áreas de risco alto. Ora, é o tipo de levantamento que é crucial na elaboração de políticas públicas e direcionamento de verbas.

Não podem faltar, tampouco, questões básicas do ordenamento das cidades. Bueiros não podem estar entupidos, cheios de lixo. Não pode haver mais construções irregulares, em áreas de risco. A recuperação florestal nas margens dos rios e nas áreas costeiras é fundamental para dar vazão às águas das chuvas. Basicamente, muitas das soluções giram em torno também do comportamento da população. É também uma questão de educação e cidadania.

As chuvas cada vez mais intensas precisam encontrar cidades mais preparadas, com planejamento urbano e planos eficientes de contingência. Não é um trabalho que acaba junto com o fim da chuva, ele é contínuo, para que na próxima tempestade a população consiga perceber as melhorias e se sentir mais segura.

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