Sempre que ocorrem desastres climáticos como o temporal dos últimos dias no Sul do Estado, a força da natureza, como um agente do imponderável, tem um lugar cativo no repertório de justificativas para a tragédia. E não há como fugir desse argumento, tão tangível quanto a própria chuva que cai.
Só que nesse universo das responsabilidades, o homem, que se organizou em sociedade para aprimorar suas estratégias de autoproteção diante das calamidades, não está desobrigado de agir previamente, usando a própria racionalidade como mecanismo de autodefesa. Principalmente quando alguns se dispõem a representar essa mesma sociedade. A notória relação entre poderes e responsabilidades.
Iconha e Alfredo Chaves, duas das cidades mais afetadas pelo aguaceiro que provocou tanta destruição na noite de sexta-feira (17) e na madrugada de sábado (18), não se distinguem em nada urbanisticamente de outros municípios entremeados por rios no Brasil, de maior ou menor porte. Normalmente, desenvolveram-se sem planejamento nos arredores dos leitos, promovendo o desmatamento das matas ciliares, não permitindo o escape das águas nas cheias. E ainda há os desafios sanitários, ainda distantes de serem resolvidos.
É possível, mesmo com cidades erguidas, traçar metas de infraestrutura que mitiguem os danos causados pela chuva. Promover o melhor uso do solo e o reflorestamento também ajuda a evitar que águas extrapolem o leito dos rios, por garantir a contenção do assoreamento. E a própria população tem muito a contribuir, evitando o descarte de lixo no rio e nas suas proximidades.
A falta de preparação não é uma primazia brasileira: basta lembrar a tragédia do furacão Katrina, em Nova Orleans. A catástrofe que deixou 1,8 mil mortos em 2005 pode ser considerada uma tragédia mais humana do que da natureza, já que ficaram comprovadas as deficiências estruturais nos diques que deveriam proteger a cidade.
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O sistema de barragem construído representava apenas 60% da estrutura capaz de proteger a população. Nova Orleans, contudo, aprendeu a lição e, dez anos depois, um novo projeto de infraestrutura passou a garantir a segurança da cidade. Aqui no Brasil, por outro lado, ainda continua sendo difícil aprender com os próprios erros.
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