Rogério Martins, de 34 anos, carrega a mais impactante das memórias das chuvas que arrasaram o Espírito Santo em dezembro de 2013: a de ser um sobrevivente. Luania Tschaen carrega a saudade do marido, que perdeu a vida, soterrado por um barranco. Raquel da Silva, hoje com 33 anos, carrega a ausência familiar: perdeu mãe, cunhada, irmão e filho, de uma só vez.
Todos compartilham o peso dessas perdas. Dores pessoais e prejuízos materiais que se somam a tantos outros que fizeram o Estado inteiro encarar um luto coletivo em pleno Natal, quando enchentes devastaram 70% das cidades capixabas, em 17 dias de chuvas intensas e praticamente ininterruptas. Ao final, 24 pessoas morreram, e duas nunca foram encontradas. Mais de 7 mil ficaram desabrigadas, enquanto 55 mil foram desalojadas.
Recordações dolorosas demais que, assim como as das chuvas de 1979, deixaram marcas indeléveis no inconsciente coletivo. Quem viveu aquele período natalino de tantas perdas, humanas e materiais, vai ter para sempre alguma experiência ou história a ser contada. Foram dias muito difíceis, mas que também fizeram aflorar o melhor lado de muita gente.
Há os heróis do Corpo de Bombeiros, do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo da Secretaria da Casa Militar (Notaer-ES), das defesas civis... profissionais que se dedicaram às demandas incessantes daqueles dias. E há os heróis que vestiram a capa quando enxergaram a gravidade da situação. Pessoas comuns que foram para os alojamentos, para o trabalho voluntário. Sem falar nas doações, que mobilizaram a população capixaba.
Lembranças que também são um importante aviso: as mudanças climáticas devem produzir cada vez mais eventos extremos como as chuvas de 2013, o que transforma a própria noção de contingência: não é mais questão de se vai acontecer, mas quando vai acontecer. Governo e prefeituras precisam se antecipar, estar um passo à frente das tragédias naturais com planejamento urbano: as ocupações desordenadas estão no cerne das tragédias das chuvas. E a preservação ambiental é a protagonista incontestável.
As chuvas de 2013 deixaram traumas, e encará-los não é fácil para todo mundo. Principalmente para aquela parte da população que, a cada chuva mais forte, precisa estar sempre preparada para recomeçar do zero. Para muita gente, 2013 ainda se repete a cada temporal. E isso deve bastar para mobilizar as autoridades públicas, e a própria sociedade, na busca de melhores condições de vida, como moradia digna, para todos. É disso que nunca podemos nos esquecer.
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