Ciclovias ainda são um luxo para poucos na Grande Vitória
É importante espalhar ciclovias pelas cidades para que elas se tornem um estímulo de segurança para cada vez mais pessoas adotarem as bicicletas como meio de transporte
Os riscos que os ciclistas enfrentam para trafegar na Grande Vitória. Trecho na saída das Cinco Pontes, em Vila Velha. Crédito: Fernando Madeira
Ninguém nega que a malha cicloviária na Grande Vitória se expandiu a olhos vistos nos últimos 20 anos, principalmente na Capital, resultado da pressão de grupos defensores de uma mobilidade urbana mais inteligente e acessível e do entendimento do gestor público de que esse é um dos principais caminhos para ampliar as possibilidades de deslocamento dentro das cidades.
No caso da Grande Vitória, isso inclui até mesmo as movimentações intermunicipais, já que se trata de uma massa urbana contínua em grande parte de sua extensão. No caso da porção insular de Vitória, o acesso Norte é feito pelas três pontes no Canal de Camburi, das quais a Ponte de Camburi tem ciclovia e a Ponte da Passagem, uma estrutura anexa exclusiva para pedestres e ciclistas.
Na porção mais ao Sul é que a situação é mais perigosa, principalmente pelo fluxo intenso de trabalhadores que fazem uso da bicicleta diariamente para se deslocarem de Cariacica e Vila Velha rumo a Vitória. O único caminho possível é a Ponte Florentino Avidos, onde ciclistas ou dividem com pedestres a estreita calçada, constantemente sem manuteção e cenário de assaltos, ou se arriscam no meio dos carros. É uma situação caótica, justamente em um local onde o trânsito de bicicletas é mais intenso.
Com a crise do emprego, trabalhadores empurrados para a informalidade encontram na bicicleta um meio econômico de locomoção. É uma questão de necessidade. Para quem vive nas periferias e precisa se deslocar para as regiões centrais, a infraestrutura viária tende a ser mais precária do que nos bairros de classe média, onde também cada vez mais pessoas estão adotando as bikes como um meio mais sustentável. Uma questão de opção, mas também importante. A rede de ciclovias em Vitória, contudo, ainda não se ramifica para dentro dos bairros. Neste momento, a Avenida Rio Branco, na Praia do Canto, está em obras para receber um trecho delas.
Enquanto isso, a Ciclovia da Vida, também em obras na Terceira Ponte, promete ser mais uma conexão importante entre ilha e continente, embora muito provavelmente vá exigir um preparo físico de quem resolver se aventurar por ela. Não há dúvidas da importância de sua existência, mas somente com a sua inauguração será possível dimensionar se seu uso será voltado para o lazer ou se também terá um impacto na rotina do deslocamento entre Vitória e Vila Velha.
É importante espalhar ciclovias pelas cidades para que elas se tornem um estímulo de segurança para cada vez mais pessoas adotarem as bicicletas como meio de transporte. Contudo, as administrações municipais precisam estar mais atentas à manutenção das já existentes e também à fiscalização quanto ao seu uso por veículos motorizados, como as scooters, cada vez mais comum.
Ciclistas se arriscam pelas ruas da Grande Vitória onde não tem ciclovia
As ciclofaixas, que demarcam um espaço para bicicletas em ruas e calçadas, também cumprem esse papel de estimular a circulação, já as ciclorrotas, por determinarem um compartilhamento entre bicicletas e carros, acabam se tornando uma zona de guerra. Como já são as ruas e avenidas em geral.
Muitos motoristas não respeitam o espaço de 1,5m determinado pelo Código de Trânsito, mas o problema vai além desse descumprimento da norma. O trânsito é o que as pessoas fazem dele, e não é exagero dizer que a falta de respeito impera. De carro, de moto, de bicicleta, a pé: todos têm suas responsabilidades. É óbvio que a infraestrutura precisa ser de qualidade, com espaços bem demarcados para cada um desses personagens urbanos. Especificamente para os ciclistas, as ciclovias precisam ser disseminadas, é questão de segurança de primeira ordem. Mas sem cidadania no trânsito e respeito às suas leis, os acidentes e mortes continuarão sendo rotina.