Cocaína: apreensão recorde em navio no ES expõe o tamanho do problema

Quantidade expressiva da droga (1,5 tonelada) fornece também a dimensão colossal do tráfico internacional, no qual o Brasil se insere como uma importante rota

Publicado em 07/11/2023 às 01h00
Drogas
Operação encontra 1,5 tonelada de cocaína em navio no Porto de Vitória. Crédito: Polícia Federal

É importante parabenizar o trabalho da Polícia Federal e da Receita Federal na apreensão de mais de 1,5 tonelada de cocaína em um navio no Porto de Vitória ocorrida neste domingo (5). Mas a quantidade da droga, um recorde encontrado em uma única embarcação no Espírito Santo, de acordo com a Alfândega de Vitória, fornece também a dimensão colossal do tráfico internacional, no qual o Brasil se insere como uma importante rota.

No Espírito Santo,  há um empenho perceptível da Polícia Federal na desarticulação de grupos que utilizam portos para enviar drogas produzidas em países da América do Sul para a Europa. Trata-se de um mercado bilionário, e obviamente a carga de mais de 1,5 tonelada que deixou de ser transportada para o continente europeu pode significar um rombo significativo nas finanças dos grupos criminosos. A descapitalização do crime é importante estratégia para combatê-lo.

Não há informação sobre o grupo responsável pela droga apreendida no Porto de Vitória, mas sabe-se que o Primeiro Comando da Capital (PCC)  controla o tráfico no Porto de Santos (SP) e tem capilaridade por todo o território nacional. 

De acordo com o Ministério Público do Estado de São Paulo, até setembro deste ano foram apreendidas 6 toneladas de cocaína no Porto de Santos. Em entrevista ao site Metrópoles, o promotor Lincoln Gakiya,  do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), afirmou que o número representa 10% do que os criminosos conseguem enviar ilegalmente pelo mesmo porto. Se a proporção for a mesma nos portos capixabas, a apreensão deste domingo (5) expõe o tamanho do problema. É um jogo de gato e rato, que depende de ações constantes de inteligência para ser minimamente efetivo.

Nesta segunda-feira (6), teve início atuação policial da Marinha e da Aeronáutica nos portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo, após a publicação do decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) pelo presidente Lula na semana passada. A medida, que deve durar até 3 de maio de 2024, tem o objetivo justamente de combater o crime organizado, após a escalada da violência no Rio de Janeiro. Uma ação emergencial diante do caos na segurança pública, mas não uma solução de longo prazo.

Paralelamente, o Exército vai atuar nas fronteiras do país, no Paraná, no Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso, com foco em postos de abastecimento e trânsito de drogas. Segundo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino,  um dos critérios para escolha dos locais abrangidos foi logístico. Não foi informado se chegou a ser considerada a inclusão do Espírito Santo.

No período de vigência da GLO, é importante aumentar a vigilância, para que os portos capixabas não se viabilizem como rotas alternativas. A apreensão significativa desta semana pode ser um mau sinal, e exige ainda mais atenção das autoridades federais e estaduais.

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