No dia 20 de março, quando o Espírito Santo contabilizava apenas 13 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus, o governador Renato Casagrande determinou o fechamento do comércio para evitar o avanço da doença. Um mês depois, no dia em que o Estado bateu a marca de 1.168 pessoas contaminadas e 33 mortes, anunciou a liberação das atividades comerciais em 72 das 78 cidades capixabas.
O melhor momento para a saída do isolamento é tema complexo e discutido por todos os governos, de potências mundiais a pequenas províncias, que buscam o equilíbrio para tocar a vida sem causar mais mortes. Envolve um ajuste delicado entre os protocolos sanitários e a necessária retomada econômica, não como áreas dicotômicas, mas complementares para a sobrevivência das pessoas.
É sob esse gelo fino que caminha Casagrande. Se as previsões da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), feitas em fevereiro, previam de 4 a 5 meses de propagação do coronavírus em solo capixaba, agora a projeção foi revisada para um período de 12 a 18 meses. Se por um lado é insustentável chegar a meados de 2021 com portas baixadas, por outro é preciso um plano de redução do distanciamento social muito preciso. Com o fim da pandemia ainda distante no horizonte, o governador assumiu o risco de fiar-se nas restrições impostas às lojas e na consciência dos moradores para navegar pela crise.
A decisão evidentemente foi comemorada por comerciantes, que vinham amargando prejuízos e encarando o risco de falência, mas é vista com preocupação por médicos infectologistas, o que também é óbvio. Se sob regras rígidas o Espírito Santo assistiu ao aumento exponencial dos casos de Covid-19, a partir de agora os desafios são ainda maiores e demandarão comprometimento de todos os cidadãos, corresponsáveis pela propagação ou contenção do vírus.
A flexibilização do comércio no Espírito Santo deixou de fora a Grande Vitória e Alfredo Chaves, municípios que concentram quase 90% das confirmações no Estado. Nas outras cidades, está autorizada a abertura do comércio sob um novo normal: limite de entrada de clientes, máscaras, horários de funcionamento especiais.
Mas há perigo na esquina. O próprio secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, afirma que o novo coronavírus está em um movimento claro de interiorização. Em apenas cinco dias, os números de casos confirmados mais que dobrou na Região Sul, passando de 19 para 45, por exemplo.
Para relaxar as regras de isolamento, de acordo com o infectologista Lauro Ferreira Pinto, cidades devem firmar-se sobre um tripé formado por distanciamento entre clientes e funcionários, barreira sanitária e testes para todas as pessoas com sintoma gripal. A primeira das medidas está estabelecida no decreto de Casagrande, enquanto a segunda passou a ser adotada apenas na Grande Vitória, em Alfredo Chaves e em Presidente Kennedy. Já o diagnóstico é um obstáculo, porque não há exames suficientes e os resultados demoram até duas semanas.
O país, não apenas o Espírito Santo, olha o novo coronavírus por um retrovisor embaçado. Os casos atualmente confirmados referem-se a contaminações de 15, 20 dias atrás e representam apenas uma parcela da população infectada. O secretário de Saúde admite a possibilidade de subnotificação. Sem testagem em massa, é impossível fazer um retrato preciso da Covid-19. Sem esse panorama fiel, a calibragem na tomada de decisões é sempre um risco.
O momento exige, portanto, fiscalização rígida dos governos às restrições impostas ao comércio, como condicionantes para seu funcionamento. Mais do que isso, requer o estrito respeito da população às regras de distanciamento social e higiene. O tão esperado retorno às ruas pode acontecer. Está nas mãos de cada cidadão a missão de salvar vidas.
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