Há exatamente um ano, Vitória vivia o que ficou conhecido como “dia do terror”. Naquela terça-feira, seis ônibus foram incendiados e outro metralhado em diferentes pontos da cidade, espalhando o medo entre a população. A série de ataques foi orquestrada por uma facção criminosa em retaliação à morte do segurança de um dos criminosos mais procurados do Estado, após confronto com a Polícia Militar, no bairro Bonfim.
Na ocasião, neste mesmo espaço, A Gazeta alertou que era preciso restabelecer a lei e a ordem e que o tráfico não poderia continuar se impondo no Espírito Santo. Passados 365 dias, porém, criminosos ainda impõem o medo e desafiam as forças de segurança com dias seguidos de ataques na Grande Vitória.
Em um intervalo de cinco dias, da última sexta-feira (6) a terça-feira (10), foram registrados ao menos quatro confrontos entre policiais e criminosos. Houve ainda ataques de facções que resultaram em três mortes e duas pessoas baleadas. Em meio a esse cenário de violência, ocorrido em sete pontos diferentes de Vitória e Vila Velha, também chamou a atenção a apreensão de armas israelenses com seletor de rajadas, que potencializa os disparos, e de duas granadas, que, segundo a Polícia Militar, teriam sido obtidas por traficantes locais em contato com bandidos do Rio de Janeiro.
Tal poderio bélico assusta a população e também ameaça a polícia. Na madrugada de sexta-feira (6), uma equipe da PM foi alvo de tiros de grosso calibre, durante patrulhamento na Praia do Suá, em Vitória. O ataque teria partido da região de Jesus de Nazareth e contado com o auxílio de mira laser. Os militares ficaram encurralados e só conseguiram deixar a região após a chegada de apoio.
A cada ocorrência desse tipo, as forças de segurança costumam reagir com as chamadas operações de saturação, intensificando o policiamento nas regiões em conflito. Ação adotada em Itararé, Vitória, onde houve rajada de tiros e a morte de um adolescente de 15 anos nesta terça-feira (10).
Essa concentração de esforços, em geral, produz efeitos imediatos, porém não duradouros. A sensação de aparente segurança logo dá lugar ao medo, principalmente para quem vive no epicentro da violência. Moradores que se veem reféns de uma guerra que, por vezes, pode ser tácita, com períodos de trégua, mas sempre mantém um clima de tensão permanente.
Do “dia de terror” em 2022 aos seguidos “dias de ataques” de agora, é inevitável constatar que facções criminosas continuam impondo a tensão e o medo na Grande Vitória. Trata-se de uma guerra que precisa de ações coordenadas e constantes, e não apenas ocupações isoladas por parte de forças policiais.
Há tempos, o poderio dos traficantes que agem no Espírito Santo deixou de ser local. Existe uma vasta rede de apoio ao crime que vai além das divisas estaduais, como confirmado na última semana pelo secretário de Segurança, ao apontar os possíveis ganhos dos capixabas com o envio de policiais daqui para atuar em uma força-tarefa no Rio de Janeiro. Torna-se obrigatório, então, um planejamento que envolva não apenas as esferas do governo do Estado e das prefeituras, com polícias e guardas.
O caminho já foi traçado. Após longa costura, o Espírito Santo integra uma força-tarefa com participação das polícias Federal e Rodoviária Federal. Desde agosto, após passagem pelo Estado do ministro da Justiça, Flávio Dino, também integra uma outra força-tarefa, com foco em organizações criminosas. O Ministério Público tem à mão ferramentas capazes de garantir a aplicação das políticas públicas de segurança, como direito fundamental que é, além de cobrar eficiência no enfrentamento da criminalidade. A Justiça deve coroar o ciclo, dando celeridade a processos e garantindo o rigor da lei aos criminosos.
Essa soma de esforços precisa mostrar resultados. Estrangular a receptação de armas e drogas, principais insumos do narcotráfico, é prioridade. Isso não é tarefa simples, mas as forças-tarefas precisam estar à altura do desafio, com inteligência e constância nas ações. Do contrário, a população capixaba vai continuar refém da barbárie, que atos esporádicas, por mais corajosos e bem-intencionados que sejam, não têm o poder de rebelar.
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