A política, que da última década para cá passou a ser encarada com rivalidade futebolística, pode sempre se aproveitar dessa analogia. Nesta terça-feira (16), é como se o cronômetro estivesse sendo disparado: os jogadores entram em campo, mas com a diferença de que a "torcida" é que vai marcar os gols nas urnas eletrônicas em 2 de outubro, com uma possível prorrogação no dia 30 do mesmo mês.
A paixão tão característica do futebol foi transferida também para política, o que não é necessariamente ruim. Não faz tanto tempo assim, isso seria um sonho, quando se questionava por que a política não conseguia mobilizar o debate público como o futebol, nas conversas de cada esquina, em casa mesa... mas é preciso encarar a política com seriedade e compromisso. A paixão é importante para mover princípios e ideais coletivos, mas não pode se sobrepor à racionalidade.
Porque essa paixão quando se torna um desvario, levada às últimas consequências, também pode ser um repelente. Não é saudável que quase a metade do eleitorado brasileiro (49%), segundo o Datafolha, tenha deixado de conversar sobre política com amigos e familiares nos últimos meses para evitar discussões. É o efeito das eleições mais recentes, nas quais o acirramento ideológico provocou até afastamentos dentro das famílias.
E por mais que a arquibancada eleitoral tenha ficado mais barulhenta, isso não necessariamente se reflete diante das urnas. Um levantamento feito por A Gazeta com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aponta que o desinteresse dos capixabas pelo voto vem crescendo. Desde 2006, a quantidade de eleitores do Espírito Santo que votam branco, nulo ou simplesmente não comparecem diante das urnas cresce a cada ano.
Por essa razão, os candidatos que pleiteiam cargos neste ano não podem circunscrever a discussão partidária e política a uma arena de futebol, pois ela é muito maior e mais importante. Nesta campanha, a atitude responsável dos políticos é guiar os eleitores pelo caminho propositivo. O Brasil precisa, hoje, discutir seriamente a questão tributária, o papel do Estado, a distribuição de renda, a educação e tantos outros pontos estruturais que precisam ser revistos e reformados. O Brasil precisa voltar a crescer, mas com vigor, para ser colocado nos trilhos do desenvolvimento. Há muito a ser feito e debatido, e disso os candidatos não podem fugir.
Os 46 dias que se iniciam para a realização da propaganda eleitoral nas ruas, na internet, no rádio e na TV são regidos por leis que devem ser cumpridas à risca por candidatos e partidos. Todos estão entrando em campo cientes das regras. Os resultados dependem da atuação de cada um, das habilidades em realizar as proposições, da visão de jogo. O eleitor precisa ser conquistado, não seduzido e enganado.
Estratégias sujas de desinformação devem ser tratadas com rigor, com a Justiça Eleitoral e o Ministério Público atentos a movimentações suspeitas. No Espírito Santo, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) deu início dos trabalhos do Núcleo de Combate aos Crimes e à Corrupção Eleitoral (Nucoe) nesta segunda-feira (15), contando com atuação das polícias Militar, Civil e Federal e dos Ministérios Públicos estadual e federal.
O embate de ideias neste momento não é só salutar como necessário, é assim que se constrói a democracia, com discussão, com questionamentos. Candidatos e eleitores devem ter em mente essa noção de civilidade, deixando de lado provocações vazias que em nada importam para um país tão cheio de urgências como o Brasil. Uma eleição de ânimos acirrados, como acontece tantas vezes com torcidas de futebol, vai ser mais um problema entre tantos. A violência precisa ser combatida com propostas dos candidatos, não usada voluntariamente como solução para a divergência.
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