
É doloroso demais constatar que, como sociedade, ainda falhamos tanto com nossas crianças. O noticiário deste jornal está aí para provar a recorrência de tanta violência: neste fim de semana, um menino de 10 anos foi esfaqueado por uma jovem de 18 anos, em Cariacica.
Os casos não param: no início do mês, um jovem foi preso por agredir a companheira e o filho recém-nascido em Barra de São Francisco, no Noroeste do Espírito Santo. Dias depois, uma mulher foi presa em flagrante por chutar o filho de 11 meses, em Vila Velha.
Em duas ocorrências, as crianças não resistiram às agressões e morreram: um menino foi deixado sem vida no Pronto Atendimento (PA) de Alto Lage, em Cariacica, com hematomas no corpo e sinais de violência sexual; já em Vila Velha, outro garoto, de 6 anos, foi encontrado morto no apartamento em que morava. Nos dois casos, os suspeitos são da família das vítimas. Tio e pai, pessoas que deveriam protegê-las acima de tudo.
Diante dessa realidade, repetimos: é doloroso demais perceber que, como sociedade, ainda falhamos tanto com nossas crianças. Principalmente dentro de casa, onde deveriam ser sentir plenamente seguras. Números da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgados em outubro do ano passado mostram que 80% das agressões no país contra crianças de até 14 anos em 2023 ocorreram nessa situação.
Em 2022, foi sancionada a Lei Henry Borel, com mecanismos para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente, entre eles a adoção de medidas protetivas contra os agressores. Contudo, essa violência segue sendo silenciosa, só percebida quando a tragédia se concretiza. Fortalecer a legislação com penas mais duras é importante, mas infelizmente não basta.
Familiares, amigos, professores e profissionais de saúde precisam estar sempre atentos ao comportamento das crianças, que podem dar indicativos de que passam por sofrimento. É importante que, como sociedade, exista mais cuidado e zelo com essas pessoas ainda em formação, sem capacidade de autodefesa.
As notícias mostram que não são casos isolados — em 2024 foram 366 ocorrências de lesões corporais em crianças de até 12 anos no Estado. É uma epidemia de violência, que precisa ser encarada também pela sua face cultural. Maus-tratos não podem ser normalizados, a família existe para proteger suas crianças.
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