A máscara, como emblema desta pandemia, carrega uma simbologia que pode ser aplicada ao comportamento que se espera das pessoas nesta fase da crise sanitária no Espírito Santo, na qual há tanta expectativa por mais flexibilização das atividades. Quando ficou evidente que o novo coronavírus seria o protagonista de 2020, o uso do acessório que acabou se tornando artigo de primeira necessidade ainda demorou a ser estimulado.
Mas, assim que o uso se disseminou, os especialistas passaram a mostrar que as máscaras não profissionais protegem quem a coloca no rosto se as demais naquele ambiente também a usarem. É o exemplo mais nítido de que o comportamento individual é o que leva a um resultado coletivo: se todos colocam a máscara, a circulação do vírus cai drasticamente, reduzindo o contágio. É interdependência pura e simples, como a própria vida em sociedade.
Em uma escala mais ampla, é isso o que se espera das relações sociais neste momento em que todos deverão aprender a conviver com o vírus. Enquanto se aguarda a vacina, o convívio em sociedade terá de se adaptar à nova realidade. Além do uso de máscara nas interações, o distanciamento de dois metros dos interlocutores deixou de ser uma mera precaução para ser uma transformação cultural, mesmo que tenha prazo de validade para ser superada.
O novo normal, expressão já tão desgastada, pode ser momentâneo, mas não pode ser descartado pelo incômodo que provoca. Não dá para continuar agindo como se ainda fosse janeiro de 2020.
O Espírito Santo ingressa neste setembro de 2020 com a expectativa de que o mapa do Espírito Santo fique cada vez mais esverdeado, com os 78 municípios se encaminhando para o risco baixo. A nova matriz de risco da Covid-19 no Estado passou a dar mais peso a critérios como o crescimento ou diminuição de casos ativos, internação, número mortes e números da testagem.
A metodologia da matriz anterior avaliava também o isolamento social e população acima de 60 anos. Os tópicos deixaram de ser considerados e foram substituídos para criar um cenário em que a vida social comece a ser retomada de alguma forma, com a adoção permanente de cuidados.
"O mapa vai ficar verde, mas temos que ter muita cautela. A reversão de um passo errado pode ser custosa. Se errarmos, tem que errar para cima, melhor sobrar do que faltar cuidado. Mas tentamos fazer de forma equilibrada, não queremos fechar ou restringir tudo, temos que atender ao contexto. Então, o Estado avalia semanalmente, não faz promessas e cria expectativas que não pode cumprir. Temos que evitar decisões precipitadas e decisões em longo prazo, que podem demandar uma reversão depois."
A fala do coronel Alexandre dos Santos Cerqueira, comandante do Corpo de Bombeiros, que participa da elaboração da matriz, sintetiza o estado atual da crise sanitária no Espírito Santo. Principalmente após mais um final de semana no qual as aglomerações tiveram novamente destaque. Vídeos e fotos mais uma vez expuseram que a autonegligência tem sido tão maléfica quanto o descumprimento do decreto estadual por bares, restaurantes e produtores de eventos. Os estabelecimentos nem precisam funcionar para que pessoas se reúnam sem qualquer proteção ou distanciamento, como se testemunhou na Rua da Lama na madrugada deste domingo (30).
A desconsideração do cidadão com a saúde pública é fatal, tanto no sentido do contágio quanto no do próprio avanço das flexibilizações. Se não houver responsabilidade civil, é a sociedade que acabará pagando o preço, com o prolongamento de medidas restritivas que já poderiam ter sido superadas se houvesse o comprometimento de cada um.
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Não deveria ser pedir demais que as pessoas ponderem sobre suas atitudes, usando a sensatez para priorizar o interesse coletivo. É perfeitamente possível reconstruir os laços sociais aos poucos, no ritmo coordenado das quedas de restrições que virão pela frente.
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