Chega a ser um tanto assustador que esteja tão perceptível o relaxamento da população quanto ao isolamento social justamente quando se aproximam os 15 dias que deverão iniciar o período mais crítico para o enfrentamento da pandemia no Brasil e, mais especificamente, no Espírito Santo. Para aqueles que têm condições de se manter em quarentena, exige-se apenas paciência e, principalmente, um compromisso cívico, já que nem todos podem se dar a esse luxo. O novo coronavírus tem forçado a adoção de medidas restritivas há aproximadamente um mês. Sem elas, o cenário atual estaria ainda mais caótico.
Até o fim desta semana, a previsão da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) é de que o número de casos confirmados no Espírito Santo chegue a mil. Uma projeção do governo estadual aponta que, sem as ações para evitar aglomerações no Estado, esse número estaria batendo os seis mil. A verdade é que a gravidade da Covid-19 ainda se encontra embaçada diante da politização de quase todos os aspectos da pandemia. Se, oficialmente, o Brasil acabou de passar dos 20 mil casos notificados, um relatório interdisciplinar do projeto Nois (PUC-Rio, USP, Fiocruz e outras instituições) calcula que o número real de infectados em território nacional esteja em torno dos 245 mil.
A explosão do número de casos já era esperada, dentro da dinâmica de propagação do novo coronavírus. No domingo, a Sesa divulgou pela primeira vez a situação nos bairros, uma forma de aproximar a informação da realidade das pessoas. Ao se observar esses dados, percebe-se que ainda não há concentrações significativas, o número que mais saltou aos olhos foi o de Jardim Camburi, em Vitória, com 38 notificações. No caso, vem a ser o bairro mais populoso de Vitória, com mais de 40 mil habitantes. Mas essa situação que ainda pode ser considerada confortável tem tudo para mudar. O que reforça o compromisso de cada cidadão na manutenção do distanciamento social.
Fala-se muito nas consequências trágicas para a economia, mas o fato é que ela tem condições de se recuperar, mesmo a duras penas. Já vidas humanas que se perdem, não. É preciso acabar com as aglomerações, na maior parte desnecessárias, testemunhadas com uma frequência dolorosa. Por mais que o vírus não atinja a todos da mesma forma, dado o elevado percentual de assintomáticos e pacientes com sintomas leves, esse inimigo microscópio ainda mantém seu potencial de colapsar o sistema de saúde com os casos mais graves. Todos vão sofrer com essa sobrecarga, não somente quem estiver na estatística da Covid-19. Inclusive os que possuem planos de saúde.
Não dá para determinar a duração da pandemia, o que impõe a mudança de comportamento de toda a sociedade. É um aprendizado diário para as pessoas e também para as próprias lideranças governamentais e científicas. As respostas às ações vão determinar o endurecimento ou o afrouxamento das medidas de restrição de circulação nas próximas semanas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) acabou de determinar que o novo coronavírus é dez vezes mais letal que o H1N1, por isso orienta que a suspensão do confinamento deve ser gradual. O fim precipitado pode abrir as portas para uma reincidência.
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O governador Renato Casagrande manteve as restrições ao comércio na próxima semana, continuando alinhado ao discurso internacional. Promete, como se espera, avaliar o cenário. Mas tão ou mais importante que a ação de governos é o compromisso de cada um com a proteção de todos. Neste momento crucial para a própria humanidade, a responsabilidade não é algo que pode ser transferida para o outro. Nunca dependemos tanto de nós mesmos.
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