Com 60% da sua população adulta já vacinada com ao menos uma dose, o Espírito Santo se apresenta com um ritmo bastante satisfatório de imunização contra a Covid-19, sobretudo quando colocado ao lado de outros Estados. Uma boa notícia quando se sabe que, além do entrave da dependência do envio de vacinas por parte do Ministério da Saúde, há também uma outra batalha mais sutil, mas não menos danosa, a atrapalhar o avanço vacinal: a desinformação.
Não há como negar que o ímpeto antivacina, mesmo que no Brasil nunca tenha se manifestado na forma de um movimento mais organizado, é um fator de risco para a cobertura vacinal. Mas, com o avanço da vacinação, uma outra questão, até certo ponto derivativa da negação das vacinas, também veio perturbar a ordem: a escolha do imunizante.
Não dá para generalizar as motivações de quem, em um momento tão crítico de saúde pública, prefere recusar uma vacina a garantir sua proteção o quanto antes. Mas há por trás dessa decisão muita informação tendenciosa e desencontrada, que confunde a ponto de produzir um desprezo coletivo por determinados imunizantes, quando avaliações científicas já determinaram sua eficácia.
É de certa forma mais um capítulo de um processo de descrédito que não nasceu com a pandemia. Uma reportagem publicada por este jornal conseguiu contextualizar bem essa desconstrução da credibilidade das vacinas, muito intensa nos EUA e na Europa desde os anos 90, e intensificada no Brasil a partir de 2013, segundo um estudo da UFMG.
A pesquisa analisou a disseminação de notícias falsas sobre as mais diversas vacinas de 2010 e 2019 e constatou o impacto na queda de cobertura vacinal registrada no período. A imunização contra o sarampo é um exemplo, inclusive no Espírito Santo, de esforço de saúde pública que foi prejudicado pelo fortalecimento das crenças conspiratórias contra as vacinas. No Estado, chegou-se a se registrar quatro casos da doença em 2019, resultado da fragilização vacinal registrada nos últimos anos.
Assim, dissemina-se que vacinas podem gerar outros problemas — a vinculação do imunizante contra o sarampo ao aumento de casos de autismo é a mais emblemática, embora já tenha sido cientificamente refutada há décadas — ou estão relacionadas a mecanismos de controle por parte de governos e a indústria farmacêutica. Narrativas rocambolescas, que levam as pessoas a acreditar e abandonar o que é a realidade: as vacinas foram e são uma das responsáveis pela longevidade da humanidade. Uma proteção à saúde das pessoas sem precedentes.
A pandemia, por ter se apresentado de forma tão avassaladora, está contribuindo para fortalecer a credibilidade das vacinas como um todo, mesmo que ainda exista tanta resistência ignorante. O Brasil, que sempre esteve na vanguarda sanitária com seus programas de vacinação, precisou atravessar um deserto com a falta de engajamento do governo Bolsonaro para enfim conseguir dar encaminhamento à vacinação.
Entre "sommeliers" de vacina e conspiracionistas de toda a sorte, a maioria dos brasileiros mostra a cada dia que quer sim levantar a manga para receber a vacina no braço. A confiança na ciência fica registrada nos números crescentes de pessoas vacinadas. Esse fato incontestável contribui para que as teorias conspiratórias sejam jogadas para escanteio. E é assim que deve ser.
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