Com guerra na Ucrânia, Brasil precisa apontar saídas para conter inflação

Comércio global é interdependente, nem os países mais organizados financeiramente vão escapar dos efeitos econômicos de uma crise geopolítica. Mas o Brasil se encontra tão fragilizado que parece incapaz de se organizar para mitigar os impactos

Publicado em 04/03/2022 às 02h00
Ucrânia
Tanques ucranianos entram na cidade após o presidente russo, Vladimir Putin, autorizar uma operação militar no leste da Ucrânia, em Mariupol. Crédito: Carlos Barria/ Reuters/Folhapress

O Brasil não entrou em 2022 com o pé direito: a inflação e os juros atingiram os dois dígitos, corroendo a renda da população e inviabilizando o crédito, mas havia alguma expectativa de melhora de cenário, com economistas apostando na valorização do real e na redução da pressão inflacionária. Um alívio que, diante do novo contexto global, não deve se confirmar. A invasão da Ucrânia pela Rússia vai bagunçar aquilo que já não estava bem organizado, após os momentos mais críticos da pandemia. Não só no Brasil, mas em todo o planeta.

Enquanto a guerra se desenrola no leste europeu, com a qual é impossível não se sensibilizar diante da morte de soldados e civis, o Brasil tem de encarar as suas guerras internas. O combate ao empobrecimento da população  é uma das trincheiras mais urgentes.

Ainda sem o restabelecimento das cadeias de suprimentos globais afetadas pela crise sanitária, as sanções contra a Rússia e o cerco militar na Ucrânia devem promover ainda mais desarranjos econômicos e, consequentemente, manter e até aumentar a onda inflacionária que se abate sobre o planeta. O Brasil, como um país mais vulnerável às intempéries diante de sua catástrofe financeira, não pode assistir a tudo, impassível. É preciso reagir, para não se abater ainda mais.

O empobrecimento da população é sensível, o encarecimento dos alimentos coloca cada vez mais pessoas diante da vulnerabilidade alimentar e da fome. E a guerra na Ucrânia, ao encarecer a energia, os grãos e os fertilizantes, já promove uma escalada no preço dos alimentos. Para se ter uma ideia, a Rússia e a Ucrânia respondem por cerca de 30% do trigo comprado no mercado mundial e pouco mais de 20% do milho. 

O agronegócio brasileiro, dependente dos fertilizantes importados da Rússia, vai ser diretamente afetado. A Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) divulgou nesta quinta-feira (3) que o setor calcula ter estoques  para os próximos três meses, e os produtores já se mobilizam para um consumo racional, com utilização de técnicas alternativas do manejo do solo. A situação também ensina sobre a importância da diversificação de fornecedores e do próprio investimento na produção.

O comércio global é interdependente, e nem os países mais organizados financeiramente vão escapar dos efeitos econômicos de uma crise geopolítica, a depender das proporções que o conflito ainda vai tomar. Mas o Brasil se encontra tão fragilizado que parece incapaz de se organizar para mitigar os impactos internos dessa nova crise.

Paulo Guedes foi preciso na explicação da conjuntura, diante das carências na oferta de produtos que o país vai enfrentar. Também foi claro ao demonstrar preocupação com a pressão inflacionária provocada pela guerra, sobretudo nos alimentos. Está tudo bem desenhado, o problema que o país vai encarar está diante dos olhos. A questão é propor as soluções, de caráter imediato.

Afinal, no cenário estrutural do país, a agenda continua a mesma de sempre: promover a consolidação fiscal do país e as reformas estruturantes o quanto antes, para que as tensões globais afetem a economia nacional com menos força. Obviamente, uma guerra de proporções mundiais é um ponto fora da curva, como a pandemia também foi e continua sendo. Mas isso não exime o Brasil de se preparar para o pior, com uma economia que não esteja previamente fragilizada. O preço da guerra, no país, vai acabar sendo sentido pelos  mais pobres, que vão continuar com o bolso e o prato vazios.

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