Quando, nos anos 70, Aldir Blanc compôs “Transversal do Tempo”, parceria musical com João Bosco consagrada na voz de Elis, uma outra transversal tinha acabado de nascer do asfalto, no final da década anterior, para singrar o Brasil do litoral do Espírito Santo até Minas e, posteriormente, Mato Grosso do Sul.
Quis o destino que o tempo fosse insidioso e ficasse cravado de forma pouco lisonjeira em cada curva da BR 262, nesses 50 anos. Uma rodovia perigosa e ultimamente por um fio, sobretudo quando assolada pelas chuvas. O traçado ultrapassado e a manutenção parca, com aquele amadorismo conhecido no trato com os bens públicos, são uma combinação explosiva para a falta de segurança.
A rodovia está passando por intervenções emergenciais desde o fim de 2019, quando os temporais colocaram em risco alguns trechos. Obras que foram prometidas para serem entregues na última terça-feira (11), mas que já ganharam novo prazo do Dnit: só devem terminar no fim da terceira semana deste mês. A ver.
Coincidentemente, foi também na última terça-feira que o Ministério da Infraestrutura enviou o aguardado projeto de concessão — que inclui o trecho capixaba da rodovia e parte do mineiro, além da BR 381 (MG) — ao Tribunal de Contas da União (TCU).
O andamento da concessão à iniciativa privada merece ser comemorado, é a possibilidade de dar um ponto final a tanta negligência. A expectativa é que o leilão seja realizado já no primeiro trimestre de 2021, segundo a pasta. A previsão é de R$ 7,7 bilhões em investimentos em 30 anos de concessão. Um novo horizonte se desenha para a rodovia, vital para a logística capixaba.
No terreno das idealizações, a BR 262 precisa passar por uma remodelação radical, que reduza a sinuosidade da pista e efetive obras de contenção de encostas. Pontes, viadutos e túneis são obras de arte que reduziriam distâncias e tornariam a rodovia mais segura. É neste momento que se desperta do sonho.
A realidade mostra que a duplicação, por si só, já é um obstáculo para a concessão, fazendo os fantasmas do leilão fracassado de 2013 voltarem a assombrar. Duplicar toda a extensão da BR 262 no traçado atual tem custos considerados elevados, sem a garantia do retorno com o pedágio, mas tudo leva a crer que a nova proposta poderá ser mais atraente aos investidores.
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Se o primeiro desafio será fechar um bom negócio, outros virão em seguida, principalmente no cumprimento de prazos e burocracia. O plano de concessão prevê a duplicação completa em 21 anos, uma outra transversal do tempo, espera-se que cercada de êxito. Em pleno 2020, sobra ansiedade para que, de alguma forma, se inicie logo essa contagem regressiva para uma nova BR 262, mais moderna e mais segura.
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