Já foi dito neste espaço que os contornos metafóricos do Contorno do Mestre Álvaro se superam a cada novidade sobre os andamentos das obras, a ponto de se embolarem como um novelo de atrasos e falta de recursos.
A novela tem quase uma década: com o contrato assinado em 2014, problemas ligados à burocracia e à imprecisão do projeto atrasaram as obras durante cinco anos. Com a ordem de serviço enfim assinada em 2019, a previsão inicial para a conclusão era em 2021.
A questão é que 2022 chegou e com ele muitas reviravoltas e imprecisões sobre os prazos. Em fevereiro, o prefeito da Serra, Sérgio Vidigal, falou que, com os recursos a conta-gotas, a previsão de entrega seria em agosto de 2023. Em abril, o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, em visita ao Estado, fez uma promessa arriscada: concluir as obras ainda neste ano, mas sem garantir o dinheiro para antecipar o término. Não foi explicado como a mágica seria feita.
O ministro manteve a aposta alta dois meses depois, em junho, quando afirmou que as obras seriam entregues no fim de 2022. Mas com uma brecha que fez toda a diferença: a obra seria finalizada nesse prazo, mas o tráfego só seria liberado no primeiro trimestre de 2023.
Setembro chegou com um balde de água fria. O mesmo ministro postou um vídeo no qual informou que Contorno do Mestre Álvaro pronto, só no fim de 2023. Procurado pela reportagem, o Ministério da Infraestrutura não informou o motivo do novo atraso. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) também foi procurado para dar informações oficiais sobre o cronograma, mas só reforçou que o prazo é 2023.
Oficialmente, de acordo com a pasta, a obra está com 57% de execução. Significa que, desde 2019, pouco mais da metade do projeto saiu efetivamente do papel. Fica difícil crer que, em menos de um ano e meio, haja empenho suficiente para concluir o Contorno do Mestre Álvaro. Sobretudo em um cenário de falta de recursos. Em fevereiro, o prefeito da Serra informava que eram necessários R$ 90 milhões para a finalização. Os recursos usados até hoje vieram, em boa parte, de emendas parlamentares da bancada federal capixaba. Os recursos destinados pela União, no orçamento do Dnit, foram reduzidos.
O Contorno do Mestre Álvaro terá 19 quilômetros de extensão, com pistas duplicadas nos dois sentidos, três vias elevadas e seis interseções em dois níveis. Um empreendimento com impacto direto na mobilidade da Serra, afetada pelo trânsito da BR 101 que corta o perímetro urbano.
Quando a obra teve início, o investimento total previsto era de R$ 290 milhões. Atualmente, já passam de R$ 455 milhões, o que mostra o impacto da leniência das obras públicas nos cofres públicos. Dinheiro que sai do bolso do contribuinte, é sempre bom reforçar.
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