Contorno do Mestre Álvaro: único desvio garantido por Brasília é o do assunto

Rodovia que vai reduzir o tráfego da BR 101 na Serra já nasceu desencaminhada em 2014, com obras que demoraram quatro anos para começar e agora não têm data de conclusão garantida

Publicado em 18/04/2022 às 02h00
Obra
Obras na Contorno do Mestre Álvaro, na Serra. Crédito: Ricardo Medeiros

O novo ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, esteve no Espírito Santo há uma semana e falou da possibilidade de antecipar a conclusão das obras do Contorno do Mestre Álvaro para este ano. Mas não foi categórico. Nem tinha como ser.

Com  um cronograma que tantas vezes já contornou o seu objetivo, a obra teve mais uma mudança de rota em fevereiro passado, anunciada pelo prefeito da Serra, município cujo trânsito urbano será beneficiado com o desvio. Segundo Sérgio Vidigal, a previsão de finalização dos trabalhos ficou para agosto de 2023, se forem garantidos os recursos necessários à sua execução.

Dinheiro que continua indisponível, como reforçou o próprio ministro na última segunda-feira (11). Sampaio garantiu que há verba para cumprir o cronograma de 2022, mas para antecipar a conclusão da obra faltam em torno de R$ 90 milhões.  O contribuinte, então, se pergunta: como o governo pode fazer  uma nova projeção para o fim das obras, mais otimista, se não há recursos para tanto? Um otimismo eleitoral pode ser uma boa explicação: em ano de eleição, mais vale esperar um milagre do que admitir que não será possível.

O Contorno do Mestre Álvaro, uma importante intervenção viária na Grande Vitória para melhorar o fluxo de veículos na BR 101, teve seu contrato assinado em 2014. Uma sucessão de problemas burocráticos, além de imprecisões do projeto, fez as obras demorarem cinco anos para começarem. A ordem de serviço só veio em 2019. A previsão, então, era de conclusão em três anos.

A maior parte dos recursos destinados à execução da via sempre veio de emendas impositivas da bancada federal. E os recursos destinados pela União, no orçamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), foram reduzidos. Em fevereiro, Vidigal havia falado sobre  a origem das verbas. “O valor atualizado do contrato é de R$ 450 milhões, desse total já foram executados R$ 240 milhões até final de 2021, sendo mais de 80% com recursos de emenda de bancada. Dinheiro da União vem bem pouco”. Quando a obra teve início, o investimento total previsto era de mais de R$ 290 milhões.

O governo federal, ao dizer que "quer, mas não pode" terminar o Contorno do Mestre Álvaro neste ano, consegue se desviar do assunto sem parecer indiferente. É uma boa estratégia para convencer quem não está tão atento. Mas a impossibilidade de adiantar uma obra de infraestrutura tão importante para o Estado por falta de recursos diz mais sobre um governo que não consegue organizar suas finanças e eleger suas prioridades do que qualquer coisa. 

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