O planeta parece ter saído de órbita nesta semana em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia global de coronavírus. Com bolsas de valores ao redor do mundo despencando, enquanto explodiam novos casos em inúmeros países, o Brasil entre eles, os últimos dias deixaram evidente a gravidade da situação.
Sem alarmismo, especialistas em epidemias reiteram que a situação tende a piorar nas próximas semanas também no país, o que exigirá esforços políticos e gerenciais para conter a transmissão comunitária e tratar os pacientes. Grandes decisões, que mexem com o cotidiano e o comportamento de cada um dos brasileiros, já estão sendo tomadas, com possibilidade de medidas ainda mais drásticas.
Positivamente, o Ministério da Saúde tem encarado a disseminação do Covid-19 com a devida seriedade, até o momento. A sobriedade de Luiz Henrique Mandetta contrasta com o comportamento de ministros mais virulentos da Esplanada, o que tem sido benéfico para conter qualquer histeria, sem necessariamente ceder à negligência. Tem sido o homem certo no lugar certo.
Enquanto já se avista no horizonte o início do contágio interno, a disponibilidade de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) traz preocupação. Segundo levantamento do jornal O Globo realizado com dados da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), dos 16 mil leitos existentes no Sistema Único de Saúde (SUS), 15,2 mil estão ocupados. Com o avanço da epidemia, esse número precisa crescer 20% para conseguir suprir a urgente demanda. O ministro já anunciou a compra de mil leitos e mudanças nos critérios para admissão e permanência de pacientes em tratamentos intensivos.
Com a inevitabilidade do surto interno, já há também a articulação do Ministério da Saúde com secretarias estaduais, que estarão na linha de frente quando começar o crescimento exponencial dos casos. Um edital foi lançado na quinta-feira para a contratação de 5,8 mil médicos para atuarem nos municípios. E, para colocar em prática essas medidas, o diálogo com o Congresso vai ser essencial para viabilizar os recursos. É a política sendo feita, em prol dos interesses coletivos.
Chega a ser uma ironia que o próprio presidente Jair Bolsonaro tenha sido tão coadjuvante até o vírus entrar no Palácio do Planalto pela porta da frente. Enquanto a doença era uma “fantasia”, o ministro da Saúde tratava de encarar a gravidade do coronavírus e de colocar planos de contingência em ação. Demorou, mas o presidente ainda pode entrar em sintonia com seu subordinado.
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Afinal, seguir a cartilha da autoridades internacionais de saúde é o único caminho para superar essa crise de proporções planetárias. Zhong Nanshan, renomado epidemiologista chinês que ajudou a vencer a Síndrome Aguda Respiratória Grave (Sars) entre 2003 e 2004, acredita que a pandemia global do novo coronavírus pode terminar em junho. “Meu conselho a todos os países é que sigam as instruções da OMS e intervenham em escala nacional”. Só depende de Bolsonaro não continuar fugindo da realidade.
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