Um levantamento realizado pelo jornal O Globo, publicado no último domingo (20), deu a dimensão em cifras da corrupção no Estado do Rio de Janeiro desde 1999. Somando-se os escândalos que culminaram no encarceramento de ex-governadores e de outras autoridades públicas, foram drenados dos cofres estaduais R$ 6,1 bilhões no período, incluindo os espúrios denunciados na gestão de Wilson Witzel, afastado do cargo neste ano de 2020.
O Estado no qual choveram investimentos para a realização de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada tornou-se o campeão brasileiro de desvio de dinheiro, não por pouco se afogando em uma crise fiscal avassaladora. O Rio de Janeiro está quebrado por ter sido sistematicamente saqueado ao longo dos anos. Mas será a corrupção responsável, solitariamente, pelo desmonte estatal?
Para tanto, se faz necessário avançar os limites do território fluminense e encarar a realidade brasileira, que em nada se distingue do caos instaurado pelos ilícitos administrativos naquele Estado. O Rio é o Brasil do Brasil, uma analogia que pode não ser perfeita, mas é plausível.
Um exercício que pode dar a extensão dos malfeitos, ou ao menos do mau uso dos recursos públicos, é enumerar alguns gastos, em grande parte legais, que também desfalcam sumariamente o Estado brasileiro.
Na última terça-feira, o Senado Federal aprovou um aumento salarial para policiais civis, militares e bombeiros do Distrito Federal, previsto em medida provisória que caducaria se não fosse votada naquele dia. Questão de prioridades, ficou claro. Isso significa que, em plena pandemia, somente uma categoria conseguiu um reajuste com impacto previsto de mais de R$ 500 milhões. Sem muito esforço, lá se foram 8% do valor pilhado no Rio de Janeiro em 20 anos.
Já um reajuste de até 73% em um bônus salarial concedido aos militares das Forças Armadas que fazem cursos ao longo da carreira custará R$ 26,54 bilhões em cincos anos. Um penduricalho que é mais de quatro vezes mais caro aos cofres públicos do que a corrupção sistêmica no Rio de Janeiro.
Exemplos similares não faltam para mostrar que, se a corrupção é uma ferida aberta, as más decisões no trato com a coisa pública fazem o país respirar por aparelhos. Não se pode buscar a cura para a corrupção sem ter a concepção de que a doença é muito mais ampla. O gasto indiscriminado, decidido em negociatas com grupos de pressão que sequestram o poder público, é tão ou mais nocivo para o país quanto a apropriação ilícita, que obviamente também deve ser combatida.
O que dizer de um país no qual a Advocacia-Geral da União (AGU) decide realizar uma promoção em massa para levar 606 procuradores federais do órgão ao topo da carreira, sem escalas, só para driblar uma reforma administrativa que ainda nem mexia com a categoria? Reforma que, mesmo só atingindo novos servidores, pode significar uma economia de R$ 400 bilhões até 2034, segundo estudo do Centro de Liderança Pública (CLP).
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É esse tipo de manobra organizada que fere de morte qualquer noção de seriedade estatal. Felizmente, houve recuo da decisão da AGU. Mas foi a coroação das decisões oportunistas e completamente equivocadas deste país.
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