Há um ano, o Brasil registrava o primeiro caso de Covid-19. Naquele primeiro estágio, a doença ainda desconhecida provocada pelo novo coronavírus e suas possíveis vias de transmissão desafiavam médicos e a comunidade científica internacional. O único consenso, então, era o da necessidade de se promover o isolamento social, diante da ausência de vacinas ou de um tratamento efetivo contra a enfermidade, para evitar o colapso do sistema de saúde e poupar vidas. Assim, o avanço da doença no mês seguinte, em março de 2020, colocou o mundo em quarentena.
Um ano se passou, e a produção de conhecimento sobre a doença hoje é infindável, um esforço científico sem precedentes que não só promoveu o desenvolvimento de vacinas de vários laboratórios e consórcios como desvendou a própria doença, aproximando-a de possíveis tratamentos. Também há muito mais informação consolidada por especialistas sobre o contágio, o que reforça comportamentos de proteção ainda imprescindíveis, mas sem a paranoia do início da pandemia.
Contudo, o Brasil permanece caminhando alheio a toda essa evolução testemunhada desde então. O país é uma terra em transe, não pela falta de empenho de pesquisadores de instituições renomadas, especialmente a Fiocruz e o Butantan, e universidades. Mas pelo descaso e incompetência do governo central, incapaz desde o início de concentrar os esforços para o enfrentamento da tragédia.
O Brasil chegou, na véspera do aniversário do primeiro caso de Covid-19 no país, sem vacinas suficientes, sem um programa de imunização eficiente e atingindo a marca de 250 mil mortes. Enquanto países mais organizados conseguiram fazer distinções entre as duas ondas da doença, o Brasil foi inundado por um tsunami provocado pela incompetência do governo Bolsonaro. Um ano depois, vive-se o pior momento da pandemia brasileira.
A trajetória do país até aqui foi lamentável. Tudo o que foi preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) teve rejeição sumária no âmbito federal. Uso de máscara, distanciamento social, inexistência de tratamento precoce com medicamentos off-label... o presidente Jair Bolsonaro não foi capaz de ser um exemplo em nenhuma circunstância. Descartou dois ministros da Saúde no momento mais crítico e abraçou um general que permanece no cargo sem mostrar a que veio.
Eduardo Pazuello é o testa de ferro dessa tragédia. O Ministério da Saúde foi incapaz de negociar a vacina com laboratórios que bateram à sua porta no segundo semestre. Não soube se impor e colocar a população brasileira à frente dos ganhos políticos ansiados por Bolsonaro na guerra da Coronavac. E, em pleno fevereiro de 2021, continua sem um plano para adquirir mais vacinas.
Não é só uma questão de saúde pública e de salvar vidas: esse atraso tem impacto no retorno à normalidade. É a economia que permanece em frangalhos, é a educação de milhões de alunos que continua prejudicada. O Brasil segue em compasso de espera: da continuidade de um auxílio emergencial que não se sabe como será bancado às reformas estruturantes que aliviem as contas públicas. Enquanto Estados voltam a endurecer as medidas, em meio à disparada das mortes e ao aparecimento de novas variantes do vírus.
Quando a doença desembarcou no Brasil, pouco se podia prever sobre o que viria a seguir. Menos de um mês depois, a OMS decretaria a pandemia e o planeta nunca mais seria o mesmo. Em terras brasileiras, nem o mais pessimista imaginaria que, um ano depois, o governo federal estaria atolado no mesmo lugar, batendo nas mesmas teclas. Sem a atuação dos governadores, a desorganização teria sido maior, assim como as perdas humanas. Não é exagero dizer que, há um ano, não se consegue respirar no Brasil sem sobressaltos.
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