Há um ponto crucial nas declarações do secretário de obras de Cachoeiro de Itapemirim, Rodrigo Bolelli, após um médico de 84 anos ter sido "engolido" por uma cratera aberta em uma calçada do bairro Gilberto Machado. É a existência de um plano de drenagem municipal, elaborado há quatro anos em conjunto com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que já havia identificado que o sistema do bairro poderia colapsar.
"A gente detectou alguns pontos na manutenção que a gente faz de forma rotineira, [identificando] que as redes estavam assoreadas, as manilhas estavam já desgastadas, mas isso não determinava exatamente uma ruptura imediata", argumentou o secretário, que classificou o desmoronamento como uma "fatalidade", em função da intensidade das chuvas do fim de semana.
Incidentes como esse colapso da calçada podem ser tanto uma fatalidade quanto decorrentes de um cenário desfavorável, quando a infraestrutura já desgastada atinge o seu limite com, por exemplo, chuvas atípicas. Nem sempre é mero acaso.
O que incomoda é perceber que houve um tempo considerável sem as devidas providências. Além do próprio plano de drenagem preexistente, os registros de alagamentos na região, mais rotineiros, já apontavam para a necessidade de uma intervenção. Os estudos, contudo, ficaram na gaveta por todo esse tempo.
Quando há investimento de dinheiro público em análises, estudos, diagnósticos e levantamentos para averiguar qualquer tipo de risco nas áreas urbanas, o que se espera é que os resultados guiem ações concretas. A população precisa ter a confiança de que será resolutivo.
O médico ortopedista, que caminhava pela calçada e por muita sorte não sofreu consequências mais graves, disse ter sido "salvo pela mão de Deus". Mas quem cuida das cidades não pode depender do acaso ou da fé das pessoas, é imprescindível antever os problemas e colocar a mão na massa para resolvê-los. É assim que os cidadãos podem realmente se sentir seguros.
LEIA MAIS EDITORIAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.