O crescimento no número de homicídios no Espírito Santo em março assusta, principalmente diante das incertezas impostas pela pandemia do novo coronavírus. Com 143 mortes registradas, o aumento foi de 66,27% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando 86 pessoas perderam a vida de forma violenta. Desde que medidas mais rígidas de isolamento passaram a ser adotadas no Estado, em 16 de março, foram 88 assassinatos. A quarentena não tem sido freio para a criminalidade.
E essa constatação deve soar como um alarme disparado para as autoridades de segurança pública, que precisam ter em mente que os próximos meses serão difíceis para o próprio aparato do Estado que atua na linha de frente. Ao mesmo tempo será preciso gerenciar as perdas de recursos humanos com o possível afastamento de policiais por questões de saúde - o que será uma tarefa inglória -, o enfrentamento ao comando do tráfico terá de ser feito com o bom uso da inteligência, para evitar que o caos na saúde pública escancare as portas para o oportunismo de bandidos, organizados ou não. Será necessário a todo custo evitar que gangues se aproveitem da calamidade sanitária para expandir o comércio ilegal de drogas à força, causando ainda mais perdas humanas.
Nesta quarta-feira, foi anunciada a prisão de dois suspeitos de administrarem um "disque-pó" na Grande Vitória, pelo WhatsApp. Com a redução da aglomeração de pessoas na rua, essa modalidade de tráfico acaba sendo a oportunidade de compensar a queda nas vendas.
É esse faro investigativo que será cada vez mais exigido da polícia, em meio a mudanças tão drásticas no convívio social. Como reforçou Pablo Lira, especialista em segurança pública que também é colunista deste jornal, os obstáculos que o tráfico encontrará com o isolamento social devem intensificar a disputa pelo controle de bocas de fumo e a cobrança de dívidas de usuários. O resultado pode ser um banho de sangue.
O Estado não pode perder o pulso, mantendo esforços para se impor nos bairros mais vulneráveis, o que vinham dando resultados. O ano de 2019 encheu a sociedade capixaba de otimismo, quando, pela primeira vez desde os anos 90, o Espírito Santo registrou menos de mil homicídios em 12 meses.
Este vídeo pode te interessar
Não foi de uma hora para outra, mas um trabalho multissetorial e sequenciado que conseguiu o compromisso de diferentes governos nos últimos dez anos. Nessa jornada, a paralisação da PM, em 2017, foi uma interrupção sangrenta desse ciclo de prosperidade, deixando cicatrizes na população capixaba. Este mês de março é o mais violento desde então, o que impõe toda a atenção das cadeias de comando da segurança pública estadual. A criminalidade não pode ocupar os vazios que a batalha contra a Covid-19 impõe. Essa é também uma guerra que só se vence com estratégia.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.