Na segunda quinzena de julho, foram registrados quatro ataques a ônibus na Grande Vitória. Dois deles em menos de 24 horas, entre a quarta (29) e a quinta-feira (30). Em uma das últimas ações incendiárias, os criminosos deixaram um bilhete, escrito à mão, no qual avisavam que se tratava de uma represália ao Estado em função da suspensão das visitas nos presídios desde março, medida tomada para evitar o contágio pelo novo coronavírus. E ainda uma resposta pelas condições das prisões.
Desconhece-se o nível real de orquestração desses ataques, respostas que cabem aos serviços de inteligência estaduais, mas é um roteiro verossímil. Afinal, a pandemia impôs uma restrição que muito certamente veio a minar a estratégia que as facções criminosas utilizam para estruturar suas operações. A diminuição da comunicação das lideranças encarceradas com o exterior reduziu drasticamente o ordenamento de crimes, mesmo que ainda persistam recursos tecnológicos para tanto.
No dia 28 de junho, antes da série de ataques, o especialista em Segurança Pública e ex-titular da pasta no Estado Henrique Herkenhoff dedicou sua coluna em A Gazeta à observação de uma mudança na relação entre a criminalidade com a proibição de visitas nos presídios na pandemia. "Este momento catastrófico para a sociedade está fornecendo um laboratório' interessantíssimo, pois tudo indica que, sem receber autorização dos criminosos encarcerados, aqueles em liberdade estão muito menos ativos e, em particular, isso parece estar ajudando as polícias no seu incessante trabalho de conter os assassinatos".
A reação da criminalidade que se viu na sequência, contudo, também segue um script. Não é só a pandemia que imobilizou os tentáculos dessas facções, mas o próprio enfrentamento imposto pelas ações do atual comando da Segurança Pública no Estado.
A Operação Caim, que chegou à nona fase no último dia 24, tem sido profícua na caçada a homicidas não só na Grande Vitória, como também no interior. Somente nessa data, 58 pessoas foram presas, sendo 14 assassinos, além de pessoas em situação de flagrante e com mandados de prisão por outros crimes. Também foram cumpridos 47 mandados de busca e apreensão.
Com menos espaços diante da repressão do aparelho do Estado, a própria atuação da criminalidade fica comprometida. O que força também a redução de crimes contra a vida, em sua maioria ocorrida no campo dos acertos de conta do tráfico de drogas. Em julho foram 68 homicídios, comparados aos 79 de junho. Mas o resultado ainda é o pior para o mês, na comparação com julho de 2019 (62) e 2018 (67). O que não é motivo para o esmorecimento das ações das forças de segurança, que estão no caminho certo.
O comandante-geral da Polícia Militar do Espírito Santo, coronel Douglas Caus, demonstrou uma bem-vinda assertividade ao declarar que os criminosos envolvidos em ataques devem ser transferidos para presídios federais. O mesmo deve ser feito com as lideranças encarceradas.
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São atos que afrontam a autoridade estatal e, por isso mesmo, os responsáveis devem ser mantidos distantes das regiões onde exercem essa nefasta influência. Na pirotecnia dos fogos de artifício que tomam conta dos bairros sob o comando de facções ou na piromania criminosa dos ataques a ônibus, a criminalidade reage porque está sendo devidamente reprimida.
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