No ambiente democrático, a crítica não é só salutar, ela é essencial e ajuda a sintetizar a própria noção de vida em sociedade. A discordância oferece novos vislumbres, novas rotas para se chegar a um objetivo comum. Não há democracia sem oposição. E enquanto o Espírito Santo passa por um momento grave na segurança pública, culminado com o registro do mês mais violento do ano até agora, com 108 homicídios em agosto, o acirramento da violência se configura como uma prioridade que transcende ao governo estadual, tradicionalmente incumbido da gestão da área, exigindo a participação dos municípios e dos demais atores sociais.
O crescimento da criminalidade, materializado pelos conflitos entre gangues do tráfico na Grande Vitória com maior ou menor grau de organização, não é pontual: os sinais vêm sendo dados nas oscilações das estatísticas de homicídios desde o ano passado, após o 2019 que fez história ao registrar menos de mil mortes violentas em um ano.
Os tiroteios nos bairros dominados por facções estão cada vez mais frequentes, há uma sensação de desmoronamento dos avanços dos últimos anos, mesmo que ações de enfrentamento policial, coordenadas pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), sejam testemunhadas.
Assim, chama atenção o grito do presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso. "Tenho sempre falado: a segurança pública está abandonada e respirando por aparelhos no ES. Só em agosto, 108 homicídios. Falta efetivo, condições dignas de trabalho para os policiais e falta, sobretudo, compromisso do Governo com a segurança dos capixabas", escreveu o deputado em seu perfil no Twitter. A crítica é válida, a cobrança ao Executivo precisa existir, pois uma das atribuições de um parlamentar é fiscalizar o governo.
Mas há algo que, em um momento tão delicado para o Estado, precisa se sobrepor às diferenças: a união dos Poderes para a solução de problemas.
A crítica, nesse caso, não deveria abrir um campo de batalha público, mas unir forças. São as emergências do Espírito Santo de hoje que devem ser a prioridade de todos os Poderes.
Até porque a ferida exposta da segurança pública esconde problemas e doenças mais profundas do Estado, como educação, gasto público e acesso aos serviços essenciais, entre outros. Desafios que não são tangenciais à atuação parlamentar, são centrais. Executivo e Legislativo devem pactuar as ações capazes de reduzir a violência, também com a participação do Judiciário e o envolvimento da sociedade civil. A crítica deve existir, sem dar espaço para omissões, e trazer sempre com ela as ações.
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