
Muita gente oportunista surfou na onda da desconfiança da população sobre as novas regras da Receita Federal para o monitoramento de transações financeiras, inclusive o popular Pix, antes de as mudanças morrerem na praia, com o recuo do governo federal nesta quarta-feira (15).
A desinformalção existiu, a primeira quinzena do ano teve circulação intensa de fake news sobre o suposto plano do governo federal de passar a tributar o Pix, essa ferramenta que revolucionou as transferências de dinheiro no país desde a sua criação, em 2020, justamente pela ausência de taxas. E por ser instantâneo, é claro.
Foi possível mensurar os estragos: o Banco Central divulgou que o número de transações por Pix registrou a pior queda desde o lançamento do sistema.
Mas há um ponto importante na crise do Pix, que está exatamente na essência da desinformação. Há estratégia por trás da difusão de mentiras para se beneficiar da instabilidade: fake news sem pé nem cabeça não têm fôlego. As que se fortalecem e implodem o ambiente público são necessariamente verossímeis, essa é natureza das teorias da conspiração. É preciso que a primeira reação de quem lê ou assiste a um conteúdo falso seja: "Faz sentido!".
Por mais que tanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quanto o presidente Lula tenham vindo a público para desmentir a onda de boatos, a possibilidade de o governo federal vir a taxar as transações no futuro "fazia sentido" para muita gente. Sobretudo no contexto atual, em uma gestão que coloca tantos obstáculos para cortar gastos e atingir o equilíbrio fiscal. Criar mais impostos acaba, mais uma vez, "fazendo sentido", mesmo que as autoridades se esforcem para garantir que não. Mas falta credibilidade.
A desconfiança no governo foi o combustível da desinformação. Ao decidir pelo recuo de uma medida de combate à sonegação e, portanto, necessária ao país, é possível inclusive que os mentores da desinformação se vangloriem, dizendo que estavam certos sobre as intenções de Brasília. A edição, nesta quinta-feira (16), da Medida Provisória que proíbe a aplicação de qualquer taxa sobre o Pix é o que pode ajudar a aplacar essa crise.
LEIA MAIS EDITORIAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.