A Constituição é cristalina ao afirmar que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. No Brasil, sabe-se que esse compromisso estatal é garantido a duras penas, com precariedades de atendimento que, contudo, não desmerecem a abrangência e até mesmo a qualidade de muitos dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) à população brasileira. A pandemia, em seus períodos mais críticos, foi um teste de fogo para esse sistema que, mesmo ainda distante do ideal, conseguiu não colapsar com os casos de Covid-19.
Pode parecer estranho, portanto, que justamente com o arrefecimento da crise sanitária, resultado dos esforços de vacinação em massa que marcaram este ano de 2021, o atendimento de saúde nos municípios esteja tão sobrecarregado. Sim, há uma epidemia de gripe que veio se somar à pandemia de Covid-19, que ainda persiste. O aumento de casos nas últimas semanas provocou um crescimento da procura às unidades de atendimento de saúde em vários municípios do Espírito Santo, com algumas cidades registrando o crescimento de até 80% na demanda de pacientes com sintomas gripais. É uma situação preocupante.
Em Vitória, neste domingo pós-Natal (26), o Pronto Atendimento de São Pedro, no bairro de mesmo nome, em Vitória, registrou recorde de procura por atendimentos. O boletim da Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou que, na data, 389 pessoas foram atendidas no local com queixas de síndrome respiratória.
Durante toda a semana anterior, o total de atendimentos foi de 730. A Prefeitura de Vitória informou que nem em abril passado, quando a média de pessoas era de 400 por semana durante a maior onda da pandemia de Covid-19 no Estado, a unidade registrou tanta procura.
O resultado é mais pressão sobre o sistema, e o consequente crescimento da insatisfação e das reclamações, principalmente relacionados à longa espera por atendimento. No canais de comunicação da Gazeta, muitos pacientes registraram suas queixas durante todo o feriado de Natal.
Na madrugada da sexta-feira (24), um homem acabou preso após jogar cadeiras para o alto no PA de São Pedro, comportamento agressivo que seria relacionado ao atendimento. A cena teria ocorrido após a consulta, de acordo com a prefeitura. A reação foi violenta e injustificável, de qualquer forma.
A indignação dos cidadãos com a qualidade do serviço de saúde precisa ser ouvida, sempre. Em Vitória, a prefeitura garante que não faltam médicos, e a demora do atendimento é creditada ao crescimento da demanda. É uma satisfação do poder público que faz sentido, mas exige também a adoção de medidas emergenciais, para que o caos não se instale.
Em entrevista à CBN Vitória nesta segunda-feira (27), o prefeito Lorenzo Pazolini afirmou que vai ampliar o horário de funcionamento das unidades de saúde da Capital, com atendimento inclusive nos finais de semana.
E a própria população tem o seu quinhão de responsabilidades. Ninguém quer ficar doente, ninguém quer precisar de atendimento médico. Portanto, é hora de se prevenir. A gripe que se espalha atualmente exige de cada um a continuidade dos comportamentos mais racionais do auge da pandemia (que vale lembrar sempre: ainda não acabou). Evitar aglomerações, usar máscara principalmente em ambientes fechados... sem falar na vacinação. Mesmo que o imunizante atualmente disponível contra a gripe ainda não seja eficaz contra a nova cepa da H3N2, ela garante proteção contra outros tipos que continuam circulando.
Não se retira aqui a responsabilidade do poder público de prestar o serviço à população, mas a manutenção do comportamento preventivo da pandemia pode reduzir a pressão que tem sido testemunhada nos sistemas de saúde municipais.
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