Da selvageria dos hooligans britânicos nos anos 80 à batalha campal entre torcedores de Querétaro e Atlas, no México, no início de março passado, não é exagero afirmar que o futebol ao redor do mundo ainda convive, em pleno século 21, com uma cultura da violência quase naturalizada. Por mais que seja oficialmente repudiada e contestada, seus atores nem sempre encontram os rigores da lei na justiça comum. É como se o futebol fosse um universo à parte.
Um ambiente que sempre foi dominado por homens, mas que tem visto nos últimos anos uma abertura cada vez maior às mulheres. Uma bem-vinda ocupação feminina dos espaços esportivos, no caminho da superação da segregação por gênero. Contudo, a confusão no jogo entre Nova Venécia e Desportiva que culminou na agressão de uma assistente de arbitragem pelo técnico da Desportiva mostrou, além da evidente covardia, um perigoso encontro entre a violência arraigada ao futebol e a violência contra a mulher.
Não cabe aqui saber se as reclamações do técnico no intervalo tinham ou não fundamento, tampouco se houve erro da arbitragem. Essas são questões que se resolvem no campo das regras do esporte. A falha foi permitir que uma discordância dentro de uma partida descambasse para a situação registrada pelas filmagens: um técnico de futebol fazendo pressão sobre os árbitros homens e dando uma cabeçada no rosto da assistente mulher.
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No futebol, a sensação é de que, no calor de uma partida, tudo é permitido. As emoções ficam mais afloradas, justificando atitudes impensadas pelo "amor" ao clube, no caso de torcedores, ou pela dedicação ao uniforme, no caso de jogadores e comissão técnica. Não deveria ser assim. A violência em campo ou em torno do futebol é sempre inaceitável. Com a entrada de mais mulheres nesse universo, elas não deveriam encontrar ainda mais violência, como se já não bastassem as que precisam encarar em outras esferas de suas vidas.
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