Da Glória à Rua da Lama, a banalização da vida no ES

Os casos ocorridos nos dois locais da Grande Vitória na última semana são apenas os mais recentes e chocantes de mortes por motivos fúteis

Publicado em 18/03/2025 às 02h00
Crime na Rua da Lama
Breno Rezende de Carvalho, de 25 anos, conversou com o suspeito segundos antes de ser esfaqueado e morrer em Vitória . Crédito: Reprodução/Redes sociais

A semana passada começou com um crime bárbaro, o assassinato a facadas da atendente e sócia-proprietária de uma loja na Glória, em Vila Velha, na segunda-feira (10), e terminou com outro igualmente apavorante, a morte de um jovem em plena Rua da Lama, em Vitória, na madrugada de sábado (15), com uma facada no peito.

Da possível aleatoriedade do primeiro crime ao suposto desentendimento sobre uma conta de R$ 16 do segundo, é a  banalidade da vida que deixa sua marca, mais uma vez. As circunstâncias dos dois casos ainda são investigadas, mas até mesmo os flagrantes das câmeras de videomonitoramento em ambos os crimes ajudam a reforçar um sentimento de impotência, como se a própria vida em sociedade estivesse cada vez mais em risco quando tudo é resolvido com violência.

Elas formam um caldeirão no qual uma crise ética se mistura a um ambiente no qual a saúde mental é cada vez mais colocada à prova, sem falar nas desigualdades sociais que são a base dos problemas brasileiros. Diferentemente das mortes provenientes da criminalidade propriamente dita, que carrega nas costas a maior parte dos homicídios, os assassinatos que surgem de um convívio social desgastado parecem não ter solução institucional. Mas não pode ser possível que, como sociedade, não consigamos encontrar caminhos.

É evidente que a impunidade contribui para consolidar essa cultura de violência, mas há  algo além. Penas mais duras são importantes, mas ainda assim incapazes de interromper esse ciclo. As relações em sociedade estão fragilizadas não somente pelo individualismo, mas pela falta de um senso de comunidade que só é atingido com educação, não só a formal, como a passada em família. E estamos muito carentes dela.

Esse vazio ético desgasta as relações e, ao mesmo tempo, deixa essas relações sem qualquer tipo de limite.

Acabar com essa indiferença é um desafio enorme, algo que não se resolve por decreto, mas deve ser alimentado com políticas públicas que promovam novas formas de enxergar o mundo, no qual a educação seja o principal caminho para a solução dos conflitos. É buscar ampliar as possibilidades de convivência, de as pessoas estarem juntas, porque é assim que se compreende na prática o que é a vida em sociedade. É assim que se fortalece o respeito.

Não é tarefa fácil, mas é preciso começar de algum lugar. A violência não pode continuar sendo a resposta para as nossas diferenças. 

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