No Espírito Santo, quase 600 mil pessoas vivem em favelas, o que equivale a 15,6% da população, um percentual que supera consideravelmente a média nacional, de 8,1%. No Brasil, o número de favelas e comunidades urbanas cresceu 95% nos últimos 12 anos. Os dados são do Censo 2022.
Neste ano em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) volta a utilizar, após meio século, a nomenclatura "favela" para designar essas comunidades urbanas que possuem características comuns, como irregularidade fundiária, ausência ou oferta incompleta de infraestrutura do poder público e precariedade de serviços públicos, esses dados oficiais acabam sendo a materialização de uma nova visibilidade, ajudando a municiar governos, de todas as esferas, na elaboração de políticas públicas mais eficientes para essa parcela tão considerável da população capixaba e brasileira.
Os dados do censo contribuem para uma nova cartografia de uma parte das cidades historicamente alijada da civilidade. Não pela vontade das pessoas que residem nas favelas, a imensa maioria trabalhadora e batalhadora, mas pelo descaso estatal e pela segregação racial e econômica.
O trabalho dos recenseadores em 2022 não pode ser desperdiçado: esse mapeamento pode fazer a diferença na elaboração de estratégias mais consistentes de combate à pobreza. Políticas de Estado para as favelas, baseadas nas condições de vida e moradia explicitadas nesses números.
E não se pode ignorar tampouco o enfrentamento da criminalidade, que não pode ser tratada por estigmas, mas minada com a presença institucional, para além da atuação policial. Dignidade e oportunidade são sempre as palavras de ordem.
A volta da "favela" foi uma reivindicação, detectada em consultas públicas, das próprias pessoas que vivem nessas comunidades. O fortalecimento de uma identidade que permaneceu apagada nos órgãos oficiais, mas que reflete como a população das favelas encara a própria realidade. É uma forma de representatividade que, longe de romantizar os problemas, ajuda a fortalecer as demandas econômicas e sociais que podem de fato ter impacto na vida de quem vive ali.
As favelas ficam assim mais visíveis, aparecem no mapa, não só aos olhos de quem está no poder, mas da própria sociedade. Não dá para continuar dando as costas para as favelas, só lembrando delas quando os problemas atingem as áreas mais privilegiadas das cidades.
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