A experiência da vida em sociedade impõe desafios de convivência, moderados pelo Estado democrático de Direito. Diante da onda de manifestações populares ornamentadas por reivindicações inconstitucionais de intervenção militar e de cerceamento dos Poderes Legislativo e Judiciário, pode ter se consolidado a desanimadora sensação de que o país foi tomado por aqueles que apostam na implosão institucional para reorganizar o sistema com as mãos pesadas do autoritarismo, repetindo erros irreparáveis de nossa história recente.
A última pesquisa Datafolha trouxe alguns desdobramentos que ajudam a entender a cabeça do brasileiro neste momento tão repleto de controvérsia. O levantamento, de antemão, mostrou que o compromisso da sociedade com a democracia nunca esteve tão firme.
Com 75% dos entrevistados considerando o regime democrático o mais adequado, atingiu-se o maior índice sobre esse tema na série histórica do instituto de pesquisa, iniciada em 1989. Mesmo que a noção do que seja democracia possa variar e até mesmo receber interpretações equivocadas, não deixa de ser um retrato otimista de como o cidadão anda encarando os pactos sociais vigentes.
Foram ouvidos 2.016 brasileiros que possuem celular em todas as regiões e Estados do país, com margem de erro de dois pontos percentuais. A pesquisa foi muito além para apreender a percepção dos entrevistados sobre alguns temas que moldam o próprio senso de civilidade de uma sociedade. E os resultados não decepcionaram.
Atualmente, 81% dos brasileiros acreditam que o voto deve ser universal, uma demonstração de que o senso democrático é de fato majoritário na sua infraestrutura. O Datafolha também colocou os direitos humanos no jogo, justamente um dos temas que mais provocam polarização. O resultado apontou que 65% dos brasileiros acreditam que a dignidade humana deve valer para todos, inclusive criminosos. A maioria da população, portanto, não coaduna com a barbárie.
Os brasileiros, em ampla maioria, consideram que as manifestações pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo (68%) e os ataques a integrantes desses Poderes com fake news (81%) são uma ameaça aos valores democráticos. A conexão da sociedade não se dá somente com as bases constitucionais da nação, mas com o próprio bom senso. Há, por exemplo, a convicção de que políticas públicas devem ser definidas por especialistas nas respectivas áreas, talvez uma consequência do confuso e ineficaz enfrentamento da pandemia no país.
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A fotografia do Datafolha mostra um cidadão atento aos princípios que fortalecem a nação, suas instituições e suas leis. Escolheu o caminho da civilidade. Ainda assim, é preciso superar as visões distorcidas daqueles que não compreendem o papel da democracia, por carências educativas ou, pior ainda, por pura desonestidade.
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